DEPRESSÃO

Óleo sobre tela 2003 -  
António Carmo nasceu em 1949. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, onde tirou o curso de Pintura. As tradições portuguesas e a etnografia são temas sempre presentes nas obras deste pintor nascido no Bairro da Madragoa, em plena Lisboa Antiga, que conta no seu percurso com a passagem pelo Grupo de Bailados Verde Gaio. Em quarenta anos de carreira dedicou-se também à ilustração de artigos em jornais e livros de autores portugueses. É, actualmente, artista exclusivo do Japan Arts Bank e da Galerie Albert I em Bruxelas.


 "A depressão pode afectar pessoas de todas as idades, desde a infância à terceira idade, e se não for tratada, pode conduzir ao suicídio, uma consequência frequente da depressão. Estima-se que esta doença esteja associada à perda de 850 mil vidas por ano, mais de 1200 mortes em Portugal. " Ministério da Saúde
"A depressão é uma doença dos afectos que se caracteriza por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil.
Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afectam de forma negativa essa é denominada depressão reactiva ou de luto. No entanto, se as circunstâncias não são de perda (luto), se os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas, convém começar a pensar em procurar ajuda psicoterapêutica." Lídia Craveiro, Psicóloga Clínica


A “ Depressão reactiva” (Reiss - 1910) ou “reacção motivada por um estímulo de natureza externa” (Jaspers - 1913) são “reacções depressivas de pesar e de luto” causadas por um estímulo externo.
Sempre que temos uma perda, passamos ou deveríamos passar pelos 5 Estádios do Luto ou da Dor: 1. Negação:  "Isso não pode estar acontecendo.", 2. Cólera (Raiva): "Por quê eu? Não é justo.";  3. Negociação: "Deixem-me viver ....."; 4. Depressão: "Estou tão triste."; 5.Aceitação: "De alguma forma, tudo vai acabar bem.". Acontece que nem sempre é assim que as coisas se passam e, muitas vezes, as pessoas ficam presas num dos estádios, não conseguindo alcançar o da aceitação.
Ao longo da vida, podemos passar pelos mais variados tipos de perdas ou lutos. Se uns pedem uma aceitação passiva, como no caso da morte de um ente querido, outras exigem uma aceitação ativa, como acontece quando alguém fica sem emprego e necessita envidar todos os esforços para encontrar outro.
Mas, todos nós temos formas diferentes de reagir às perdas, para além de que cada um de nós pode reagir de forma diferente, conforme o tipo de perda ou as circunstâncias do momento em que  a mesma se dá.
Lutar contra a depressão tem que ser, acima de tudo, um trabalho do próprio que está deprimido. Apoiar-se nos amigos e/ou familiares é uma grande ajuda. Mas, nalgumas circunstâncias, é necessária a intervenção especializada de médicos, psicólogos ou psiquiatras.
Não permitir que a depressão domine as nossas vidas é uma obrigação de cada um de nós. Qualquer que tenha sido a nossa perda ou causa da depressão, há sempre razões suficientes para começar de novo, para nos dedicarmos a coisas novas e, acima de tudo, para Vivermos.

Amanhecer em Alcafache (pastel sobre cartolina)
 Eleitão (pintor) Vive em Odivelas - Portimão
A angústia enchia-lhe o peito, tornando difícil o próprio ato de respirar. Dos olhos inchados e vermelhos escorriam-lhe lágrimas continuamente. Encolhida no canto do sofá, Joana sentia-se o último dos seres humanos.
O ruído característico do carro do lixo despertou-a para a realidade. Um sentimento de descrença e de irritabilidade cresceu dentro dela.
Como era possível que a lua brilhasse, risonha, no céu?
Como era possível que a Terra continuasse girando nos seus movimentos eternos?
Como era possível que os vizinhos de cima rissem às gargalhadas, naquela sua noite escura e triste?
Como era possível que a vida prosseguisse no seu ritmo habitual?
Como era possível que o mundo não tivesse parado, para chorar com ela a sua dor?
A custo, Joana ergueu-se do sofá. Já deitada na cama fria, virou-se e revirou-se numa noite insone, cheia de pesadelos.
Amanheceu. Aos tropeções Joana foi até à casa de banho e tomou um banho demorado. Regressou ao quarto. Abriu as portadas das janelas. Um raio de sol nascente atingiu-a na face. As cores do amanhecer, vivas e quentes, encheram-lhe os olhos e caminharam diretas para o coração.
Começara um novo dia, um novo ciclo, um novo amanhecer. 
Joana olhou-se no espelho. Penteou os cabelos. Tentou disfarçar o inchaço dos olhos com uma pintura suave. Inspirou profundamente. Endireitou as costas  e levantou o queixo. A porta da rua bateu.
Joana inspirou os cheiros da manhã. Afivelou um meio sorriso. Caminhou com passos firmes.

Joana amanheceu.

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