A Sexualidade - A Sensualidade - Os Piropos e os Assediadores

A sexualidade é própria do reino animal e, portanto, também dos homens e mulheres. É algo tão natural como respirar, comer ou sorrir e é essencial para a continuidade das espécies.




Contudo, a sexualidade é muito mais do que o ato sexual e o orgasmo. Estes são apenas o culminar de toda uma encenação e muito mais rápidos do que tudo o que lhes antecede. 
A sensualidade e os jogos de sedução  têm o propósito de enriquecer e tornar  a vida agradável, excitante, apaixonante.
Durante séculos, o mundo ocidental criou diversos tabus relativamente à sexualidade, transformando-a numa atividade pouco digna, apenas destinada à procriação, particularmente se se estivesse a falar de mulheres.
Relativamente aos homens sempre houve uma maior tolerância, pois, "coitados", estes não conseguiam resistir aos prazeres da carne.
No século XIX e mesmo ainda nas primeiras décadas do século XX, estava interdita à maioria das mulheres a prática de uma atividade sexual mais satisfatória. Não seria raro ouvir da boca dos maridos frases como  "A boca que beija os meus filhos não faz essas porcarias".
Pelo que, para atividades mais criativas, os homens recorriam assiduamente às "habilidades" das profissionais. 
Assim, quer pela educação rígida, quer pela omnipresença do pecado,  com que continuamente eram atemorizadas pela Igreja, quer pela falta de "jeito" ou empenho dos homens, raras eram as mulheres que sentiam qualquer tipo de prazer no ato sexual. Este era apenas um frete a que tinham que se sujeitar, sempre que os maridos se quisessem "servir delas". 
Se, por acaso, a mulher sentisse prazer no ato sexual com o marido, muitos maridos ficariam indignados com tal facto, talvez temendo que as suas mulheres passassem a ter comportamentos devassos, como os deles, ou, por puro preconceito, considerando que elas deveriam comportar-se como virgens ou seres assexuados.
Mesmo assim, a sensualidade não se deixava amordaçar completamente e manifestava-se, de diversas formas. Fosse em olhares, formas de andar ou vestir, ou mesmo pela utilização de certos adereços, como o leque, o qual era utilizado pelas mulheres para comunicarem com os homens, uma vez que também havia muitas restrições e regras nos seus contactos, sendo impensável que, por exemplo, um casal de namorados fosse passear ou estivesse sozinho numa sala, sem a companhia do inevitável chaperon ou "pau de cabeleira"


LINGUAGEM DO LEQUE




Em todas, ou quase todas, as espécies animais os jogos de sedução e o cortejar das fêmeas fazem parte da sensualidade/sexualidade, antecedendo, ou não, o ato sexual.
Nas últimas décadas, o comportamento sexual dos Ocidentais mudou radicalmente. De certa forma, passou-se de um extremo ao outro, em diversos aspetos da vida social e sexual.
Se antigamente a homossexualidade era condenada, podendo os "infratores" ser marginalizados social e profissionalmente, maltratados física e psicologicamente, pelos seus congéneres heterossexuais,  ou , até mesmo, condenados e presos. Atualmente parece mal e considera-se negativo se alguém refere que não tem amigos/as homossexuais.
Por outro lado, principalmente nas faixas etárias mais jovens, é comum as mulheres terem vários parceiros sexuais, alguns deles apenas de ocasião, sem que para tal tenha que existir um relacionamento afetivo e/ou duradoiro que os suporte.
No entanto, este, digamos, progresso não veio trazer à mulher, em muitos casos, o prazer sexual que, à partida, se poderia imaginar.
De facto, a sexualidade feminina é diferente, física e psicologicamente, da masculina, os tempos são diferentes e as "exigências" de performance também o são.
Para melhorar ou aumentar a qualidade dos desempenhos sexuais é, hoje, frequente o recurso a psicólogos e medicamentos, tanto por parte das mulheres, como dos homens
Simultânea e paralelamente, as mulheres ocidentais são assediadas sexualmente, no emprego, vítimas de violência familiar ou de violações, de uma forma mais expressiva, violenta e em maior número do que antigamente.
Os comportamentos aberrantes, tais como a pedofilia, a pornografia infantil ou o tráfico de mulheres, aumentaram, também, exponencialmente.
Afinal, parece que este "progresso" não se revelou tão eficaz e gratificante como seria de esperar.
Todos estes factos parecem revelar um grande desajustamento, falta de conhecimento e confusão relativamente às necessidades físicas, fisiológicas, psicológicas, emocionais e afetivas de cada um. 
Não se encomendam orgasmos, da mesma forma que não se encomendam afetos. O respeito por nós próprios e pelos nossos parceiros/as sexuais/afetivos e pelas características físicas, psicológicas e espirituais de cada um, é fundamental para que os relacionamentos sejam mais do que satisfatórios.
A paixão, os jogos de sedução, ou os rituais do cortejamento dão sabor, apimentam e dão cor às nossas vidas e aceleram os corações. Eles alimentam, mais do que a nossa vida sexual, a nossa vida emocional e psicológica, a nossa auto-estima e bem-estar e, sem sombra de dúvida, os nossos relacionamentos
Qualquer mulher (ou homem) se sente lisonjeada se for olhada com apreço, quer seja pelos seus atributos físicos. quer pelas suas capacidades intelectuais ou qualidades morais. 
Vem tudo isto a propósito de o Bloco de Esquerda ter proposto, na Assembleia da República, que o piropo passasse a ser criminalizado, por considerarem que este é uma forma de assédio sexual.
Ora, um piropo é um galanteio, um elogio, é uma apreciação positiva de alguém, de uma forma verbalizada que, normalmente, produz um efeito positivo naquele/a que é alvo do mesmo, ainda que, no momento, se possa sentir pouco à vontade, terá sempre um efeito positivo no seu ego. 
Confundir piropos com assédio sexual é, no mínimo, triste. A não ser que, haja aqui uma grande confusão entre piropo e certo tipo de obscenidades verbais e/ou gestuais, com que alguns homens têm o mau gosto de "presentear" as mulheres, demonstrando o seu apreço pelos atributos físicos destas, de uma forma boçal, grotesca, vulgar e ofensiva, tão "agradável" quanto ver um velho jarreta a "babar" para "cima" de uma jovem mulher.
Mas, nesse caso, das duas uma, ou terão que ir aprender português, ou terão que ir tratar os seus traumas no psicólogo.
Cortejar, galantear, seduzir (no bom sentido da palavra) é bom. Não tentem espartilhar e conspurcar, com leis idiotas, a sensualidade do ser humano. Aquela sensualidade que lhe dá cor à vida.

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