SILÊNCIO, GRITO

Silêncio, grito,
No paradoxo dos contrastes.

Procuro, desesperadamente, a ficha,
Mas não encontro.
Como se desliga uma mente em ebulição?

O Mundo gira num círculo alucinado.
Crianças, mulheres, homens
Perseguidos, torturados,
Mortos..

O caos de um Mundo enlouquecido
Deixa seu rasto pestilento, pegajoso, pútrido 
E penetra-me na alma.

Silêncio, grito,
No paradoxo dos contrastes.

Gente que fala, fala, fala,
E não diz nada.
Promessas vãs.
Mentiras torpes.
Corrupção danosa.

Sem luz ao fundo do túnel,
O Mundo prossegue no seu trilho,
Impassível.

Bocas abrem-se, disformes,
Da fome que estala nos ossos 
Que rasgam a pele cansada.

Silêncio, grito,
No paradoxo dos contrastes.

Noites e dias confundem-se
Disformes,
Escorrendo tintas borradas de sangue,
De intolerância, 
De fundamentalismo,
De crueldade.

Em ritmos desfasados
Os corações batem dolorosamente.
As chuvadas são ácidas 
E transportam o fel dos homens,
Carregados de memórias enraivecidas.

A fé perdeu-se no tempo
E nas memórias dos homens.
Evoca-se o nome de Deus em vão,
Atropelando as suas leis.

Silêncio, grito,
No paradoxo dos contrastes.

Gastei as palavras,
Polidas pelo tempo das memórias amargas
Deixadas pelos homens sem honra.

Como explicar o bom senso
Das palavras escritas
Que contam a história?

O turbilhão exaltado escorre das linhas
Ferindo de morte a ingenuidade e pudor.
O ruído ensurdece-me de palavras.
A hipocrisia vence a guerra,
Jocosa, estéril, maldosa.
  
Silêncio, grito,
No paradoxo dos contrastes.

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