Uma da Manhã

Por fim, tudo ficou silencioso.


As criaturas "sábias", que proliferam pelos canais televisivos, como comentadores e experts de tudo e de nada,  deixaram, finalmente e para meu alívio, de vociferar as suas doutas verdades.
O irritante alarme, que atroou os ares, repetitivamente, durante o serão, talvez por desgaste, ou, quem sabe, agastado por ser ignorado, emudeceu.
A noite, quente e serena, envolve-me.
O bruaá do trânsito, agora mais acomodado, chega-me, longínquo, através da porta da varanda, escancarada. É hora de repousar, apenas os retardatários circulam pelas ruas da cidade.
A máquina da louça deu os últimos estalidos. O seu calor secará a loiça escaldante.
Por fim, tudo está no seu lugar.
Esticada no sofá, de portátil ao colo, acomodo-me na serenidade do momento, acompanhada, apenas, pelo sussurro das vozes de um filme, muitas vezes visto, que passa na TV, e pela cadela que dorme pacificamente na sua almofada.
Os outros ou já se recolheram, para um merecido sono revigorador, ou sairam para aproveitar a juventude da noite que se entrega, generosa, aos seu apreciadores.
A casa abraça-me. Partilhamos um momento único de calma, roubado ao meu repouso.
Logo, logo, será um outro dia, com os seus horários, obrigações, prioridades ou ansiedades.
Mas, este momento é meu. Inspiro-o, envolvo-me nele, como se de apaixonado amante se tratasse.
Cada dia tem os seus próprios problemas, não há pressa, eles lá estarão, amanhã, a aguardar.
Mas, agora, é o momento em que o tempo pára, o ruído se recolhe e a paz desce sobre mim, como um balsamo, libertador da turbulência da vida.

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