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Vista noturna - Santiago do Cacém - Foto de Jorge Ganhão

De repente, tenho 57 anos.
Fazer anos merece sempre uma festa. Grande, pequena, íntima, a dois ou mesmo sozinha. Pois, afinal, fazer anos significa que estamos vivos.
Podia escolher gozar o dia sem fazer nada, mas escolhi ter antes uma grande trabalheira.
Juntar  a família, ou, pelo menos, parte dela, e alguns amigos dá sempre trabalho.
Mas, por qualquer estranha capacidade da nossa memória, o trabalho esqueceremos, mas o prazer de ter junto de nós aqueles de quem gostamos jamais será esquecido.
Entre família e amigos, ao todo, éramos 20. 
O meu filho apareceu, de surpresa, com a namorada, depois de, ainda de manhã, quando ligou para me dar os parabéns, me ter confirmado, de novo, que não podia vir, pois estava a trabalhar até às onze da noite. 
Adorei a surpresa e adorei ser surpreendida.
Foi mesmo uma grande surpresa. Talvez a maior ou uma das maiores que já tive na vida. 
Para quem, como eu, que, para o bem ou para o mal, raramente se sente surpreendida com as atitudes das pessoas, é altamente gratificante ser apanhada de surpresa, principalmente se for pela positiva.
Na minha casa, na minha terra, com a minha família e os meus amigos, senti que, mais do que celebrar um aniversário, celebrei a vida, o amor, a amizade, as recordações e a herança imaterial de uma família.
Na realidade, nem a casa, nem a terra são minhas, eu é que lhes pertenço; nem a família, nem os amigos são meus, eu é que estou unida a eles por laços e sentimentos; nem as recordações, nem a herança são minhas, antes são elas que me sustentam, transformam e fazem de mim quem sou.
Mais um ano, mais uma nova oportunidade, mais um desafio. Esperança, fé, amor, garra, humor, coragem, curiosidade. É assim que olho a vida e o futuro, hoje, Exatamente da mesma forma que sempre o fiz. 
Ainda que tudo seja, agora, diferente, tudo, na verdade, permanece igual, visto do meu olhar.


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