SER AVÓ

 


Ser avó é algo extraordinário. É como se crescêssemos, tornando-nos umas supermães, porque amamos aquele neto ou neta por ele próprio e por ser filho do nosso filho.

É um amor que se estende e se alonga, transformando os nossos braços e o nosso coração numa imensa redoma que os quer proteger, a todos, de todas as dores e males do mundo.

Há quem ache que ser avó nos envelhece. Sempre me ri de tal absurdo. O que nos envelhece é o tempo, que passa veloz. Mas esse até que pode dar-nos rugas e quilos, tirar-nos saúde e algumas capacidades mas se não for capaz de derrubar o nosso espírito, este manter-se-á sempre jovem, isto, claro, se não se der o caso de termos nascido com espírito de "velho" ou se não o tivermos ganho, por nos tornarmos amargos, com as agruras da vida.

Por diversas razões, nem pensava que um dia seria avó.  Digeri essa improbabilidade como faço com tudo ou quase tudo o que me transcende.  Ou seja, aceitando, com tranquilidade, só mesmo aquilo que não posso mudar, depois de uma boa noite sono.

A notícia de que iria ser avó apanhou-me, portanto, de surpresa. Senti e continuo a sentir uma gratidão imensa por essa prenda inesperada, por essa bênção imensa.

Mas a minha gratidão não se fica por aqui. Nestes tempos conturbados de pandemia, repletos do mais variado tipo de perdas, entre as quais de grande parte da nossa liberdade, depois de mais uma reviravolta  pandémica, a Alemanha fechou as portas a Portugal, e eu confrontei-me com a possibilidade de não poder viajar para este país, para conhecer o meu neto que estava quase a nascer.

Mas, mais uma vez, os céus intercederam por mim e o meu neto "decidiu" que ainda podia esperar mais uns dias para nascer, porque se estava muito bem ali dentro.

As coisas foram tão bem organizadas que eu cheguei aqui exatamente no dia a seguir a terem saído do hospital. De nada teria adiantado vir antes, pois só o pai os podia visitar.

Estou aqui para "estrafegar" e mimar o meu neto. Para o deixar adormecer deitado em cima do meu peito, para ajudar os pais, de primeira viagem, nestes primeiros dias que são sempre confusos, cansativos e um bocadinho assustadores, e também para os deixar arejar de vez em quando. 

Estou aqui para estragar o meu neto com mimos, porque, a seguir, vou estar alguns meses sem o poder tocar, cheirar, confortar...

Possa o meu amor protegê-lo sempre como sinto que, de alguma forma, tem protegido os meus filhos.

Sou profundamente grata pela vida, pelo amor, pelos risos e sorrisos, por estas pequenas grandes surpresas ou vitórias, por todas as intensas paixões que têm pautado a minha vida. 

Apesar de todos os pesares, sou profundamente grata por esse imenso e fantástico milagre que é a Vida, a qual se renova a cada momento, tecendo intrincados jogos de raízes, fortalecendo troncos, multiplicando-se em ramos e desabrochando, sempre,  numa nova folha, numa nova flor, num eterno Hino à vida.



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