Ocidente vs Oriente - DA HIPOCRISIA E DO OPORTUNISMO


Foi preciso o Mundial de Futebol para que me decidisse a terminar este artigo.

Não deixa de ser fascinante observar que a escolha do Catar, para o Mundial de Futebol - 2022, feita em 2010, pela Fifa, só agora, em cima do acontecimento, provoque indignação mundial.

Para mim, a quem o futebol não desperta qualquer interesse, é difícil não me ocorrerem apenas duas palavras para classificar esta onda de indignação, oportunismo (político) e hipocrisia.

Os meus meios são poucos, mas há muito que os uso para expor os atentados aos direitos humanos, de forma particular aos direitos das mulheres, que ocorrem nos países islâmicos, nuns de uma forma mais radical e grave do que em outros, vide Filhas de um Deus Machista 

Da mesma forma, há muito que os uso para manifestar a minha indignação com o adormecimento e perda de valores do mundo ocidental que, com o advento da era pós-industrial e numa involução humana em violenta oposição à evolução cientifica e tecnológica, se deixa arrastar num capitalismo imoral, desenfreado e corrupto, onde vale tudo, desde que dê dividendos económicos e políticos, em perpétuos jogos de interesses, sem regras, limites ou qualquer espécie de valores humanos, vide Os Intocáveis


Nas últimas décadas, assistimos a transformações orwellianas no mundo, mas foi mais fácil, cómodo, rentável e "seguro" fazer de conta que não as víamos: 

1.         Capitalismo pós-industrial 

Um novo tipo de capitalismo, sem ética, dominado por oligarquias, cujo única missão, regra ou valor é o poder económico/poder político;

2.         Deslocalização de fábricas para o Oriente

Criar novas fábricas ou contratualizar o fornecimento de bens com as já existentes, em diversos países do oriente, assenta em duas grandes vantagens, mão-de-obra barata e a transferência da poluição industrial para outras latitudes, onde se trabalha em condições sub-humanas, por míseros salários;

3.         Migrações 

A Europa permitiu a entrada de migrantes, vindos de todos os cantos do mundo, mas principalmente do Oriente e de África, de forma quase aleatória e sem aparente controlo. 

Os verdadeiros refugiados ou os que procuram uma vida melhor confundem-se com todos os outros que migram, evocando todo o tipo de desculpas esfarrapadas, manietados por interesses obscuros, sem que aqueles que os manietam tenham qualquer preocupação com o seu bem-estar ou sequer sobrevivência, como tão bem evidenciam as travessias dos barcos da morte, onde centenas de migrantes, maioritariamente homens, morrem. 

Quais poderão ser os objetivos deste aparente, friso, aparente, descontrolo? Parecem não restar dúvidas de que se pretende diluir a identidade dos povos, provocar cisões no interior dos países, quebrar a sua união, distrair os cidadãos com problemas associados às divergências e embates provocados pelo multiculturalismo e engodar a esquerda com os fantasmas do racismo e da xenofobia, a qual embala em força em batalhas fantasmagóricas;

4.         Novas Ideologias e o Ressuscitar de Fantasmas

A.   Ideologia de género 

Esta aparenta ser uma missão da esquerda, como se uma característica biológica/genética fosse propriedade de qualquer ideologia política. 

Estranha missão que conduz à criação de grupos-gueto, relativamente às suas características, tendências ou preferenciais sexuais, ainda mais estranha se pensarmos que em quase todo o mundo Ocidental, tanto a homossexualidade como a transexualidade e outras características ao nível da sexualidade são agora legalmente aceites e encontram-se em processo de desmistificação e desvanecimento de preconceitos na sociedade. 

É bom lembrar que os preconceitos não são erradicados por decreto, mas diluem-se no tempo e com a criação de novos hábitos e vivências. 

E ainda é mais estranho se pensarmos que é raro o país marxista em que estas “diferenças” sejam aceites. 

De notar que a imposição desta ideologia atingiu tais níveis que há quem considere adequado dar formação sexual a crianças, entre os 3 e os 6 anos ou fazer inquéritos acerca da sexualidade dos alunos, do básico e secundário, como se algum professor tivesse o mínimo direito de se imiscuir na vida privada e sexual dos seus alunos, bem como, as patéticas lutas por uma “linguagem inclusiva” que gosto de denominar “Guerra dos Pronomes”; 

B.   Feminismo versus Machismo

O machismo é uma herança histórica dos primórdios da humanidade, baseada principalmente na força física e que, ao longo dos tempos, foi sofrendo transformações e adaptações, colocando, durante séculos ou milénios, as mulheres na dependência dos homens. 

Contudo, no Ocidente, a partir do século XIX, provavelmente em consequência das transformações sociais causadas pela Revolução Industrial e pela mudança de mentalidades, decorrentes do Iluminismo, a posição secundarizada da mulher, na sociedade, começou lenta e progressivamente a mudar, sendo que, a partir de meados do século XX, ganhou nova dimensão e força, dando-nos, pelo menos no plano legal, a almejada igualdade. 

Mas, inacreditavelmente, foi nas últimas décadas do século XX que as mulheres, radicais, da terceira onda do feminismo, começaram a empolar o machismo, transformando toda e qualquer atitude, banal e inócua, em falta de respeito, assédio ou abuso da mulher. 

Esta, mais uma vez, foi e é uma missão da esquerda. A qual tem suscitado e criado muito mais problemas às mulheres, do que qualquer benefício que lhes possa ter trazido. Pois este posicionamento radical tem dado origem a posições extremadas, criando um fosso cada vez maior entre homens e mulheres ou, pela histeria e extremismo, de tudo considerar assédio, acabar por o tornar ridículo, o que tem vindo a contribuir para a banalização do verdadeiro assédio e até das violações. 

Esta situação não tem produzido nada de bom, nem ao nível da diminuição das desigualdades que ainda se fazem sentir, nem na diminuição dos casos de violência doméstica. Os números da violência doméstica, assassinatos ou violação de mulheres têm vindo continuamente a subir, ao longo dos últimos anos. E, por mais estranho ou talvez não que possa parecer, não se vê grandes manifestação de indignação, da parte destas extremistas, com as imensas desigualdades, violência, discriminação e sofrimento das mulheres, principalmente, no Oriente e em África;

C.   Xenofobia e (Anti)Racismo

Outra grande bandeira da esquerda é a luta contra a xenofobia e o racismo, como se estas fossem questões com grande relevância nas sociedades Ocidentais. 

Não podemos, nem devemos negar a existência de racismo e xenofobia no mundo e devemos combatê-los, mas, ainda que existam um pouco por todo o lado, a sua dimensão não é significativa na maioria dos países ocidentais. 

Mais grave ainda é confundir xenofobia ou racismo com esclavagismo e pretender comparar paradigmas sociais, em contextos civilizacionais e conjunturas completamente diferentes, distanciadas por séculos de evolução humana e científica, tentando carregar-nos com o peso da culpa dos atos praticados pelos nossos antepassados. 

O esclavagismo existiu nas sociedades desde tempos imemoriais e pouco ou nada tinha que ver com a cor da pele de alguém. Foi prática comum na maior parte dos continentes, incluindo na África subsaariana, muito antes de os europeus lá chegarem, e, infelizmente, ainda o é, ainda que de formas mais veladas, hipócritas ou dissimuladas. 

A escravatura dos povos da África subsaariana foi violenta e dramática, ela foi obra de diversos países Europeus, nos próprios países ou noutros por eles fundados noutros continentes. 

O oportunismo e a ganância foram a principal alavanca destes acontecimentos, mas foram igualmente determinantes a ignorância e os preconceitos dos povos. 

De facto, nesse tempo, a civilização dos povos europeus era completamente distinta das da maioria dos povos dos outros continentes, aos mais diferentes níveis e pelas mais diversas razões. 

Essas diferenças contribuíram muito para que os povos do Ocidente vissem os oriundos da África negra como seres humanos de uma categoria inferior, calando dentro de si qualquer laivo de humanidade que os fizesse condenar o esclavagismo. 

Por mais que estas sejam verdades incontestáveis, também o são os feitos históricos dos europeus nessa época, os quais foram determinantes para a evolução das sociedades. 

Não negar a história é olhar para ela com isenção, sem a julgar de acordo com o que somos hoje, mas, sim, com o que éramos ontem, enquanto humanidade, conhecimento, capacidades e circunstâncias. 

O exacerbar e tornar atuais os erros, injustiças ou crimes cometidos pelos nossos antepassados em nada contribui para a eliminação do racismo. 

Pelo contrário, gera polémicas falaciosas que dão origem a ressentimentos, a violência, a tentativas de destruição da identidade dos povos e da sua história, em suma, à criação de um fosso cada vez maior entre povos de diferentes origens. 

A única coisa que realmente interessa é que todos os seres humanos têm os mesmos direitos, independentemente da sua origem, ascendência, cor da pele, sexo, sexualidade, crenças, ideologia ou costumes, desde que nenhum deles atente contra a dignidade da pessoa humana ou limite a liberdade de outros, 

Nesse sentido, todos os seres humanos têm que ser iguais perante a lei e na sociedade, por mais desiguais que sejam, entre si, ao nível das características físicas, intelectuais, religião, crenças, hábitos ou das suas competências e capacidades, pelas quais nunca deverão/poderão ser discriminados, 

Para que se alcance essa igualdade, liberdade, direitos e não discriminação não necessitamos só de leis, mas, sim, de incutir esse espirito nas sociedades. E, seguramente, tal não se alcança hasteando as bandeiras  da intolerância, nem da negação da história, porque os erros desta apenas são úteis como referência do que não se deve fazer e nunca como como bandeira político-partidária, para obter atenção ou votos, ao mesmo tempo que acordam fantasmas e despertam ressentimentos.

5.         Politicamente Correto

O politicamente correto serve tanto para alimentar ideologias, artificiais, de género, como para, pela exacerbação desmedida, desviar atenções das verdadeiras violações e assédio, porque o ridículo acaba por as normalizar, como ainda para, entretidos com o colonialismo e esclavagismo de há séculos, lhes passar ao lado a manipulação de que somos alvo, para criarmos fossos, divisões nas sociedades, violência e extremismos 

Enquanto as pessoas andarem entretidas com acusações, entre si, de xenofobia, fascismo, homofobia, racismo, não veem o fundamental, nem como as suas pseudo-lutas são alimentadas e manipuladas com o objetivo de os distrair e criar cisões quase irreparáveis na sociedade;

6.         Guerras 

As guerras são lá longe, dão lucro e podem ser mantidas ao longo de anos, aproveitando-se do fanatismo e ganância de alguns (que são muitos). Os mortos, os feridos, os violados, os traumatizados, os famintos são apenas danos colaterais.

7.         Negócios

Não interessa com quem se negoceia, nem que dependências se cria. É preciso é que quem compra compre barato e mantenha os cidadãos convictos da sua qualidade de vida e até do seu humanitarismo de sofá:

8.         Faturas 

  • As alterações climáticas são um fenómeno cíclico. Os humanos ainda não têm capacidade para destruir o Planeta, que se adaptará e transformará sempre, porque a sua missão é sobreviver, mesmo que isso extermine a humanidade;
  • Mas se o planeta sobrevive, já não é tão certo que o mesmo aconteça à humanidade.. 8 mil milhões de habitantes obrigam a uma produção intensiva de todo o tipo de bens, a qual implica uma poluição intensa, a uma produção de lixo impossível de reconverter na totalidade, à devastação das florestas que poderiam contrariar/absorver/reconverter a poluição.  A fome, secas e tempestades são uma espada que paira sobre a cabeça da humanidade. Transferir a poluição de Ocidente para Oriente ou Sul não ludibria o planeta apenas dá tempo ao Ocidente
  • A guerra chegou à Europa. Já tinha chegado em 2014. Mas "eram lá coisas entre eles". O Ocidente/Europa, que manteve as suas terras em paz por 70 anos, vê-se agora confrontado com uma guerra em direto, que acordou uma Europa adormecida, esquecida de valores e princípios
  • O acordar doeu. O medo e as dependências criadas imobilizam e condicionam as decisões. Ninguém sabe como isto vai terminar. Estamos nas mãos de um psicopata sem um pingo de humanidade e de um Planeta poluído, que não nos odeia, nem se quer vingar, mas cumprir a sua missão;

9.         Esperança

A esperança, é o que nos resta, de que o poder criativo é resiliência da humanidade, ao enfrentar um poder cruel, recupere valores e princípios, altere regras da economia que criou, a qual tem como objetivo primeiro servir-nos a todos, se deixe de lutas com fantasmas e aprenda a enfrentar a realidade sem subterfúgios. Hum, havemos de conseguir encontrar qualquer coisa entre uma coisa e outra, porque o sonho dessa humanidade perfeita é uma perfeita utopia;

10.      Outros Horrores

Um mundo repleto de desigualdades:

  • De género, em que às mulheres poucos ou nenhuns direitos são reconhecidos, o que acontece em grande parte dos países  islâmicos; a mutilação genital afeta pelo menos 200 milhões de mulheres, principalmente em alguns países de África e do Médio Oriente, mas que existe um pouco por todo o mundo, nas comunidades de migrantes, originários dessas latitudes; a desigualdade salarial ou de progressão profissional ainda é comum na maioria dos países, ainda que com menos significativa no Ocidente;
  • De rendimento, esta desigualdade verifica-se no mundo inteiro. Se nuns países ela é menos grave porque as pessoas com menor rendimento têm o suficiente para levar uma vida digna e com qualidade, em muitos outros não só o leque salarial é gigantesco, como aqueles que que auferem rendimentos mínimos mal conseguem sobreviver.

 

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