A Idade Ridícula ou os Mitos do Século XXI


As Idades da História são divisões convencionadas, revistas ao longo dos tempos pelos historiadores, as quais são balizadas por mudanças importantes na evolução da humanidade, ainda que seja difícil senão impossível definir critérios únicos que abranjam a totalidade de povos e culturas existentes no planeta.

Mesmo assim, convencionou-se a existência de quatro Idades da história, cinco se incluirmos a pré-história.

Assim, temos a Pré-história, 2.500.000 AC – 3.300 AC, a Idade Antiga, de 4 000 aC até 476 d.C.), a Idade Médiaentre os séculos V e XV., a Idade Moderna,  de 1453 dC a 1789 dC, e a Idade Contemporânea, de 1789 até aos nossos dias.

No entanto, algumas destas idades subdividem-se em vários períodos definidos por acontecimentos históricos relevantes, tais como, a Idade do Ferro, na pré-história, ou a Alta Idade Média, subdivisões essas que não são definidas enquanto tal nas Idades Moderna e Contemporânea, ainda que obviamente existam, como é o caso do Iluminismo ou da Revolução Industrial.

Observando o mundo que me rodeia, tomei consciência de que nas duas últimas décadas, entrámos num novo período ou sub-idade, a Idade Ridícula, ainda que esta seja uma idade, de certa forma, risível, não deixa de conter dentro dela algo de muito de sinistro, perigoso e até assustador.

O século XXI é uma espécie de Fábrica de Mitos e novas crenças, mascaradas de progresso civilizacional.

É uma era em que os problemas de saúde mental têm vindo a crescer exponencialmente, onde as Teorias da Conspiração têm ganhado uma nova dimensão, com a internet e as redes sociais, os assassinatos se têm vindo a tornar atos comuns, praticados por pessoas comuns, em que a verdadeira natureza de muitos seres humanos nos choca, diariamente, nas redes sociais e não só, ao abrigo do pseudo-anonimato, pelo ódio e crueldade que manifestam.

É um tempo que nasceu da perda acentuada dos valores humanos, morais e sociais, da hipocrisia que assentou praça, do humanismo enviesado, por ideologias extremistas, sede de poder, ganância ou imagem pública, de indiferença e comodismo, da crença de que temos direito a tudo e até de concretizar os nossos sonhos mais doentios ou megalómanos e de que a frustração é um mal com o qual não precisamos de aprender a lidar, e do relativismo moral que só se indigna se essa indignação trouxer algum tipo de proveito.

OS MITOS

  • A EDUCAÇÃO FAMILIAR
  1. A educação das crianças deve ser feita exclusivamente através de longas conversas, mesmo quando têm apenas meses, para que nunca se sintam frustradas;
  2. Com 14 anos a pessoa deixou de ser adolescente e passou a ser criança;
  3. A resiliência do ser humano, além da inata, não se reforça com as aprendizagens, os obstáculos e nãos da vida e dos pais;
  4. As crianças devem ser protegidas de todas as contrariedades, insucessos e perigos;
  5. Podemos mentir às crianças e ser incoerentes com elas.
  • EDUCAÇÃO FORMAL
  1. O acesso generalizado à educação formal, incluindo a universitária, torna, de uma forma geral, as novas gerações  mais sábias, inteligentes, conscientes e sensatas;
  2. A educação torna as pessoa mais educadas socialmente e em família;
  • DIREITOS
  1. Os direitos são obrigatórios, os deveres são facultativos;
  2. O Estado deve comportar-se como uma espécie de Grande Pai que nos protege, decide por nós e nos trata como se fossemos incapazes;
  • CORRUPÇÃO
  1. A corrupção só é um crime grave quando são os outros que o praticam, situação que se aplica aos militantes e simpatizantes de todos os partidos que não sejam o nosso, a todos que não sejamos nós, os nossos familiares ou amigos;
  2. Um corrupto que contribua para o bem estar de um grupo ou população não é bem um corrupto, é alguém que devemos respeitar;

  • IDEOLOGIA
  1. Apenas as ideologias de esquerda são solidárias e se preocupam com o povo, com os mais carenciados, com a democracia e com a justiça;
  2. As pessoas de esquerda são moralmente superiores a todos os outros;
  3. Esquerda é sinónimo de progresso civilizacional;
  4. As artes são de esquerda, pelo que artistas, escritores, pintores e outros, que não sejam de esquerda, deviam escolher outras profissões porque as sua obras não valem nada;
  • VERDADE, HISTÓRIA E CIÊNCIA
  1. Tanto a verdade, como a história ou a ciência são relativas, pelo que podem ser reescritas ou moldadas às nossas crenças, ideologias ou interesses particulares;
  2. A pós-verdade é tão válida como a verdade, é apenas a análise de uma situação ou tema de uma perspetiva diferente, que nos traga algum benefício;
  • GUERRAS
  1. São eventos distantes:
         - causados por pessoas muito más que respondem a ataques efetuados por pessoas   
muito boas;
          - com os quais nada temos a ver e que não nos afetam;

  • COERÊNCIA, ISENÇÃO E HONRA
  1. São conceitos desatualizados, criados pela sociedade patriarcal para nos subjugar


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