IMAGEM - O JARDIM DE LORENZO |
Estranhamente, esta, por vezes, confunde-se com a dor.
Aquilo que mais desejamos causa-nos arrepios, borboletas no estômago, uma necessidade incontrolável de falar com alguém, obsessivamente, sempre do mesmo assunto, de andar de um lado para o outro, como pai que, na sala de espera, aguarda o nascimento do filho, ou de ficarmos quietos num canto, de olhar vago e parado, desejando que ninguém nos dirija a palavra.
O tempo passa....dias, meses ou anos.... Um dia o encantamento termina, o mistério dilui-se e restam apenas pedaços de sonhos dispersos, que se afastam nas asas do vento.
Os pontos negros, cinzentos ou opacos que, loucos de paixão, teimamos em não ver, crescem agora, ganhado dimensão imensa, como reunião de nuvens, quando se avizinha a tempestade..
Entramos em negação... Afinal, todos temos que dar um sentido às nossas ações. Quem seríamos nós se as nossas ações não tivessem sentido?, reflete, a certa altura, o personagem principal de "Tudo o que Poderíamos ter Sido tu e eu se não Fossemos tu e eu", de Albert Espinosa.
Este romance inquietante, escrito na primeira pessoa, fala-nos de vida, de outras vidas, de dons,..., numa sociedade, algures, num futuro próximo, em que grande parte das pessoas, por opção, deixou de dormir. Para o conseguirem basta tomarem uma injeção, de uma substância ou substâncias não identificadas, por sinal bastante cara, entregue aos clientes, sempre com algum secretismo.
Este romance inquietante, escrito na primeira pessoa, fala-nos de vida, de outras vidas, de dons,..., numa sociedade, algures, num futuro próximo, em que grande parte das pessoas, por opção, deixou de dormir. Para o conseguirem basta tomarem uma injeção, de uma substância ou substâncias não identificadas, por sinal bastante cara, entregue aos clientes, sempre com algum secretismo.
Que sociedade triste.. Negar-se esse profundo prazer que é dormir......
Dormir permite-nos sonhar... Ainda que, por vezes, os sonhos se transformem em pesadelos. Mas, nesse caso, que bom quando deles podemos acordar e perceber que não são verdade.
Que prazer sairmos do mundo ou o mundo sair de nós. E, sem tempo, vaguearmos sem memórias, sem dúvidas, sem pressões, sem pressa, sem negações, sem sonhos desfeitos perdidos no vento...
Que prazer acordar... espreguiçar cada membro, olhar em volta e, preguiçosamente, virando-nos para o outro lado, voltar a adormecer..
Sonhar... Voar... Ou cair num profundo vazio, ausentes de nós, num mundo sem tempo ou num tempo sem mundo.
Acordar, ouvindo a chuva a açoitar a vidraça; sentindo um fino e brincalhão raio de sol que, teimosamente, insiste em passar entre as frinchas das portadas; escutando vozes longínquas, num bem estar morno e sonolento, certos de que perto de nós o mundo continua a girar...
Que prazer acordar... como quem regressa a casa, sentir que lá, naquele lugar incerto, onde todos os sonhos dormem, bebemos sabedoria, encontrámos a resposta, mas, ironia das ironias, nem vagamente conseguimos recordá-la.
IMAGEM - O BOSQUE DE BERKANA |
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