O HOMEM VAZIO

Mélancolie - Período artístico -2013 - 2014 - Albert György
« Ce qui ne me laisse pas tranquille est l’ambition pour la création, l’impulsion intérieure, la tension éternelle qui à la fin m’oblige à mettre en matière mes sentiments et mes visions les plus intimes. » Albert György

Albert György chamou Melancolia a esta escultura. Eu vejo-a e sinto-a como o homem vazio.
O homem vazio do século XXI que, de tanto ansiar pela liberdade e lutar pela aceitação das características e peculiaridades de cada indivíduo, acabou por se perder num emaranhado de palavras ocas, onde princípios e valores agonizam, quase sem esperança, reféns dos novéis  estereótipos, preconceitos, limites e regras, quantas vezes desviantes, quantas vezes, resultantes de frustrações, desequilíbrio e instabilidade psíquica e emocional dos seus criadores. 
Sob a bandeira do progresso civilizacional, da liberdade de expressão, sexual, artística, filosófica ou científica,  assiste-se ao adormecimento da inteligência emocional, à radicalização das sociedades e até à investigação científica condicionada pelas crenças ou tendências sexuais dos seus investigadores.
O transcendente ou divino encontra-se capturado entre a crença fanática e a rejeição pseudo intelectual ou científica, que define a fé como coisa própria de acéfalos ou ignorantes.
A família, os afetos e o amor são substituídos pelo egocentrismo,  pelo prazer imediato ou pela satisfação de todos os devaneios que um cérebro eroticamente  hiperestimulado pode conceber.  
Verdadeiramente assustadora é eclosão súbita de líderes extremistas e fanáticos, por todo o mundo ocidental, os quais germinam e ganham força em oposição direta aos extremos de liberdade, ao aumento da violência, à ausência de valores e à amoralidade reinante nas sociedades ocidentais, onde tudo é lícito, exceto proibir, estabelecer regras ou limites e onde a educação e o respeito vão caindo em desuso ou mantêm-se apenas como exigência para o que é diferente. 
Acredito que o processo de reequilibrar  uma sociedade em involução e um mundo em convulsão levará o seu tempo, pois, por agora, tudo, ou quase tudo, se move ao sabor dos interesses de grandes grupos económicos anónimos, dos radicalismos, entre o vale tudo e as regras fanáticas de religiões presas nas trevas e do egocentrismo, e consequente desequilibro psicológico e emocional dos humanos, em crescimento nas sociedades. 
Mas o homem é uma fantástica obra do Universo e da natureza, pelo que a sua capacidade de regeneração, evolução e crescimento, após qualquer queda, tende para infinito.
Na verdade, a escultura de György ilustra isso mesmo. O Homem está vazio, mas através dele é possível ver o extraordinário mundo que o rodeia, pelo que, mais tarde ou mais cedo, o coração do Homem voltará a encher-se de sonhos, de amor, de sede de conhecimento...., e a sua cabeça erguer-se-à, de novo, em direção ao céu

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