Anjos, Vida e Silêncio


 Os Anjos existem, vivem perto de nós, acompanham os nossos passos, protegem-nos e sussurram-nos ao ouvido palavras de encorajamento, mas só podemos ouvi-los no nosso coração. 
No entanto, quando as nossas emoções estão ao rubro é-nos impossível ouvir a voz dos Anjos, pois que, para os podermos ouvir, temos que fazer silêncio. Um silêncio feito não só da ausência de palavras, mas, principalmente, do controlo das nossas emoções, do encontro connosco próprios e da procura do divino.
Há alturas em que parece que tudo o que pode correr mal, corre mesmo mal, até as coisas mais simples. Nesses momentos desesperamos, a irritação, a raiva ou depressão tomam conta de nós e somos dominados ou envolvidos por uma energia profundamente negativa, a qual parece atrair todo o tipo de pessoas e situações desagradáveis.
Ao longo da minha vida, tenho tido incontáveis conversas sobre este tema, com variadas pessoas, as quais têm as mais diversas opiniões acerca do mesmo.
Umas acreditam piamente que todos os momentos e circunstâncias das nossas vidas são dominadas ou determinadas por seres ou entidades etéreas, as quais podem ter índoles positivas ou negativas, e pelas pessoas que as rodeiam que, de acordo com a sua opinião, emanam também energias positivas ou negativas.
No pólo oposto, encontram-se aquelas pessoas que não acreditam em nada. Para estas a vida termina com a morte, não existem Anjos, demónios ou Deus e consideram que o carácter e a boa ou má formação são as únicas coisas que, neste ponto de vista, distinguem as pessoas umas das outras.
Umas e outras parecem não pôr em causa, em momento algum, as suas convicções e não aparentam sentir qualquer tipo de ceticismo acerca das mesmas.
Entre umas e outras, existem muitas outras pessoas que não sabem ou não têm a certeza daquilo em que acreditam. Por um lado, querem acreditar que existe um sentido para a vida, um Deus criador do universo e do mundo, cheio de maravilhas em que vivemos, o qual tem um projeto para elas e a quem podem recorrer em momentos de aflição, mas, por outro, as dúvidas assaltam-nas, quando são confrontadas com a crueldade do mundo, as injustiças, o sofrimento ou as doenças, próprias ou dos outros e, de forma particular, quando aqueles que sofrem são crianças.
Desde que tenho consciência de mim própria que acredito que existe um Deus, uma Entidade inteligente e superior que nos criou a nós ao Mundo e ao Universo. A procura deste Deus, em que acredito, e do entendimento do que me rodeia e de mim própria têm sido uma constante na minha vida.
Não acredito num Deus que realiza prodígios, criando o mundo e o universo em sete dias, qual mágico tirando coelhos da cartola, ou num Deus ditador, castigador ou vingativo, que nos exige sacrifícios, sem sentido, os quais não beneficiam nada, nem ninguém.
Acredito, sim, num Deus inteligente e feito de Amor que nos criou, bem como ao universo, observando as leis, conhecidas ou ainda desconhecidas, da física e de todas as ciências que regem o funcionamento dessa mesma criação.
Um Deus que nos dá a liberdade de escolher que caminho devemos seguir nas nossas vidas, mas que, simultaneamente, nos envia os mais diversos sinais, através das pessoas, acontecimentos e elementos que nos rodeiam, para nos indicar qual o caminho que devemos seguir. Creio que Deus nos enviou o Seu Filho, Jesus Cristo, para nos encaminhar e conduzir ao seu Reino, mas acredito que a outros enviou outras manifestações de si próprio.
Acredito nos Anjos que nos rodeiam e ajudam, mas não faço ideia se eles têm asas, se tocam trompetes ou harpas, ou se voam pelos céus, nem penso que isso seja importante.
Sempre senti a presença de Deus na minha vida, umas vezes de uma forma mais intensa, outras de uma forma mais distante e vaga. Tenho posto em causa, muitas vezes, as minhas convicções e fé, pois por natureza sou cética e não embarco em histórias aliciantes, só porque podem aliviar as dores ou contrariedades da vida, mas tem sido exatamente nos momentos mais difíceis e perturbadores da minha vida que mais tenho sentido a presença de Deus, através de um sem número de manifestações.
Muitas destas manifestações materializaram-se através das pessoas que estavam, ou apareceram, na minha vida, no momento em que mais precisava, e fizeram precisamente aquilo que eu necessitava. Ou sob a forma de acontecimentos imprevisíveis e alheios aos meus atos, os quais vieram alterar as circunstâncias difíceis em que me encontrava no momento.
Contudo, sei e sinto que tudo tem um tempo certo, que nada acontece por acaso e que há muitas situações dolorosas nas nossas vidas, das quais não podemos fugir, apenas as podemos olhar de outra perspetiva e arregaçar as mangas, para as enfrentarmos da melhor forma que podermos e soubermos.
Deus fez-me, há muito tempo, um desafio, o qual consistiu em eu ser capaz de ser feliz, mesmo quando as coisas correm contrariamente aos meus desejos, ou mesmo quando correm mesmo mal.

 
Eu aceitei esse desafio. E sou feliz. Mas não sou conformada. Pelo contrário, todos os dias são para mim um novo desafio, todas as dificuldades são para ser superadas, todas as vezes que eu caio, ou que a vida me troca as voltas, levanto-me outra vez e começo de novo.
A vida é para mim um constante desafio, quer seja ao nível da família, amigos ou trabalho. Nem sempre este desafio é fácil de encarar, nem sempre estou preparada para lhe responder da melhor forma.
No entanto, sei que sou feliz porque Deus me ajuda a ser feliz, me ajuda a ter coragem e força, me envia os seus sinais.
As pessoas sempre foram importantes para mim. E considero que cada um nós é como que uma parte de Deus. Se é certo que todos temos defeitos e que existem pessoas boas e outras menos boas, é, também, certo que é tão difícil encontrar uma pessoa completamente boa, como uma completamente má. Por isso, tento sempre ver e aproveitar o melhor de cada pessoa, tal como o faço para as situações e, se mais não for possível, posso sempre aprender coisas novas e importantes, com as pessoas e situações menos boas ou mais desagradáveis.
Embora seja uma pessoa bastante faladora e com necessidade de partilhar ideias, sentimentos, ou acontecimentos, o silêncio, a introspeção e a reflexão são fundamentais na minha vida.



Rezar é, também, fundamental na minha vida, ainda que a oração não tenha que ter, necessariamente, uma fórmula específica ou lugar apropriado. Cada um tem a sua forma particular de rezar, a qual pode variar de acordo com o momento, o estado de espírito ou as circunstâncias. Até mesmo o trabalho, a contemplação da natureza, a forma como nos damos com e aos outros, ou a criação de qualquer obra artística podem ser formas de rezar. Pois rezar não depende da postura, do lugar ou das palavras, mas de uma atitude interior. Para mim, a oração é um instrumento extraordinariamente poderoso que opera milagres, nos ajuda a viver e, também, a morrer.

 
Recordo a minha Tia, nos seus últimos momentos, embora inconsciente, manifestava um grande sofrimento. Nesse altura, pedi à pessoa que se encontrava ao meu lado, fazendo a vela noturna, que rezasse comigo e, no momento seguinte a começarmos a rezar, toda aquela agitação, em que a minha Tia se encontrava, começou a cessar, ela foi ficando cada vez mais calma e, em poucos minutos, partiu em paz.
Esse foi apenas um, dos muitos momentos, em que me tenho confrontado com o poder da oração.
Sim, os Anjos existem, mas para que os possamos ouvir, temos que fazer silêncio, temos que tentar dominar as nossas emoções negativas e deixar-nos invadir pela paz.
A voz dos Anjos, que é também a voz Deus, é uma voz suave, vibra ao som dos nossos corações, tem melodia e transmite paz.

 
A voz dos Anjos faz-nos sentir em paz connosco próprios, com os Homens e com o Mundo.
E, acredito que mesmo aqueles que não acreditam em nada, para além do mundo material e palpável ou cientificamente comprovável, têm Deus dentro de si e são Seus mensageiros, ainda que não se deem conta de tal, ainda que tantas vezes rezem, sem ter consciência de que o fazem, pois basta amarmos, procurarmos ser melhores ou desejar o bem de alguém, para já estarmos a rezar.

Deixem-se levar pela voz dos Anjos.






Comentários

  1. Teu blog é a tua cara minha amiga. É um mar aparentemente calmo, mas só á superfície. Nas profundezas há águas revoltas, há como sempre, inquietação... amiga, sobe, vem até á superfície, a tua força (a nossa força) conseguirá sempre a proeza de alcançar aquilo que desejas...
    Um forte abraço da
    Maga

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