Do outro lado do espelho


Vénus olhando-se ao espelho   
Diego Velázquez,  óleo sobre tela 122 × 177 cm, National Gallery (Londres)


Quem é a mulher que me olha, do outro lado do espelho?
Que me dizem os olhos desta estranha?
Que sonhos? Que paixões?
Que inquietações?
Tantas vezes não a reconheço!
Tantas vezes ela me interroga,
Me questiona,
Me agride
E me olha com desconfiança!
Que sente ela, a mulher do espelho?
Quantas vezes a desiludi?
A destrocei?
A espezinhei?
A desvalorizei?
A ignorei?
A calei?
Quantas vezes escolhi e decidi, sem contemplações pelos seus sentimentos?
Pelos seus quereres?
Pelos seus sonhos mais profundos?
Eu mulher, ela mulher.
Labutadora, vencedora ou perdedora.
Quem sou eu?
Ela, a mulher, do outro lado do espelho,
Ou eu que a olho, tantas vezes cansada, tantas vezes sem forças?
Por vezes evito-a, faço vista grossa ao seu olhar implorante.
Ela, do outro lado do espelho, será o meu eu verdadeiro?
Quantas concessões, quantas negações de mim.
Ela menina mulher.
Eu mulher menina.
Meninas ou mulheres.
Sonhos desfeitos.
Amores imperfeitos.
Devoções, obrigações,
Concessões, abnegações.
Tolerância, disponibilidade.
Generosidade, sobriedade. 
Coragem, força e desprendimento.
Amor, muito amor para dar.
Maturidade, bom senso, juízo e bom comportamento.
E, elegância, beleza,
Graciosidade, eloquência.
Tão simples o que nos é pedido,
A nós, super-mulheres.
Quem somos nós, afinal?
Mulheres, meninas, perdidas no tempo
Mulheres, meninas, filhas, mães e avós.
Quem sou?
Quem és tu mulher?
Que te diz a mulher do teu espelho?

Las Niñas (1656)  
Diego Rodríguez de Silva y Velázquez (Sevilha, 6 de Junho de 1599 — Madrid, 6 de Agosto de 1660. Pintor espanhol e principal artista da corte do Rei Filipe IV de Espanha. Artista do período barroco e importante retratista. Além de variadas interpretações de cenas de significado histórico e cultural, pintou inúmeros retratos da família real espanhola, outras notáveis figuras europeias e plebeus, culminando na produção de sua obra-prima, Las Niñas.

A obra de Velázquez serviu de modelo para os pintores realistas e impressionistas A grande maioria dos seus quadros encontram-se no Museu do Prado

Comentários

  1. Eiiii Teresa!
    Ontem estive por aqui e escrevi aos montes rsrs. Não sei o que aconteceu que aqui não está! Mistérios dessa modernidade que não tenho vontade de descobrir. Então, temos realmente muitas coisas em comum. E como vc, tb não creio em coincidências...Acredito que estamos interligados por fios invisíveis e quando estamos "prontos" eles aparecem e nos reconhecemos como se já fôssemos íntimos de muito tempo. Já estive aí em Portugal por duas vezes, então o Atlântico não me detêm rsrs. Quem sabe da terceira não nos encontramos realmente? Enquanto isso, apareça mais vezes lá no divã para irmos estreitando esse nosso reconhecimento.
    Beijuuss, carinhosos, n.a.

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  2. Ah...tinha dito que adorei essa mulher e todas as que a habitam. A escolha da tela de Velázquez + música escolhida perfeita.
    Bj

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