Momentos

                                         

Há momentos inesquecíveis na nossa vida, uns são os  bons momentos, dos quais guardamos as mais gratas recordações e nos ajudam nas nossas travessias do deserto, outros são os maus, que nos deprimem, nos tiram a serenidade ou autoconfiança, ou nos roubam os nossos seres ou bens mais queridos e outros, ainda, são os momentos apaixonantes, aqueles que nos fazem vibrar, voltar a ser crianças, viver em alta intensidade.
Mas, existem ainda uns outros momentos, talvez os mais importantes e decisivos das nossas vidas, são os das nossas escolhas.



O momento da escolha, da decisão, é sempre o momento mais solitário de todos. Por mais que ouçamos as opiniões dos outros, por mais que façamos comparações, na hora de escolher estamos sozinhos e carregamos sobre os nossos ombros o enorme peso da responsabilidade dessa mesma escolha.

Perante dois caminhos, duas opções, detemo-nos. Para a esquerda ou para a direita? Em frente ou para trás?

O problema das escolhas é de que, por um lado, têm sempre consequências e, por outro, há sempre algo a perder, qualquer que seja o caminho que se escolha.

Além do mais, nunca poderemos vir a saber o que teria acontecido, nas nossas vidas, se tivéssemos escolhido de forma diferente.

A escolha é irmã do livre arbítrio e, muitas vezes, pensamos que preferimos não o ter. Muitas vezes, gostaríamos que alguém, mais poderoso e sábio, tomasse a decisão por nós, mas, tal é simplesmente impossível, pois, mesmo quando deixamos as decisões nas mãos dos outros, essa atitude é, também ela, uma escolha.

Quanta vezes, na nossa vida, fizemos a escolha errada? Umas vezes, por medo ou falta de coragem. Outras porque avaliámos mal os riscos ou tomámos decisões com base em emoções. Outras, ainda, porque valorizámos coisas que, afinal, se vieram a revelar insignificantes.

Quantas coisas espetaculares perdemos na vida, apenas por medo ou falta de coragem?

Quantos sonhos deixámos de realizar, apenas por que não era conveniente, no momento, ou ia incomodar outros?

Quantas vezes sustentámos situações insustentáveis, apenas porque isso é que era suposto que fizéssemos?

Quantas vezes, sem olhar a nada, nem a ninguém, atropelámos tudo e todos, apenas por capricho, maldade, ganância, vaidade ou inveja?

A responsabilidade da escolha é nossa. Ao pesarmos as razões das nossas escolhas na balança, temos de nos lembrar de que não temos o direito de atropelar ou espezinhar os outros, mas, também, de que não temos o direito de nos anular a nós próprios.

É por todas estas razões que os momentos das escolhas, fundamentais ou, no mínimo, importantes, das nossas vidas, são tão solitários e decisivos.

A vida é demasiado curta e demasiado magnífica para que, chegados ao fim da linha, olhemos para trás e concluamos que perdemos o melhor que ela tinha para nos dar.

Se temos que ponderar, temos, também, que ter a coragem de arriscar. A vida não tem retrocesso, nem borracha, não há forma de se voltar a trás e fazer diferente.

Pensem com a razão, neutralizem a emoção, mas decidam com o coração, pois, ele, e só ele, sabe a verdade e interpreta corretamente as mensagens do nosso eu profundo e do universo que nos envolve.

Façam silêncio (talvez uma música relaxante ajude), isolem-se num lugar calmo e bonito, esvaziem a vossa mente, libertem-se do vosso corpo, fechem os olhos. Então poderão voar e, nesse momento, a resposta, para aquela decisão tão difícil, ficará clara dentro de vós. Essa é uma decisão do coração.

Não percam os vossos momentos. Não percam os vossos sonhos. Mesmo que ao tentar cumpri-los eles não venham a ter o resultado esperado. Se não tentarem nunca saberão e restar-lhes-à, apenas, um sentimento de desilusão  convosco próprios.

Um sonho, ou um desejo profundo deixado para trás é, definitivamente, um momento perdido.

E, afinal, o que é nossa vida mais do que uma sequência de momentos?

Todas as vezes em que perdemos o momento, ganhamos uma permanente nostalgia e a sensação de que, mais uma vez, a vida não se cumpriu.

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