IMPOTÊNCIA

Hoje, após fazer zapping por vários canais da TV, sem achar nada de interessante para ver, acabei por parar no canal Hollywood,  onde estava a passar o filme Desaparecidas, baseado no livro de Tom Eidson "The last ride". 
A ação passa-se no Velho Oeste.  
É uma história sobre ausência. É a história de  um homem que abandona a família. Da filha deste, a quem um grupo de malfeitores índios e brancos, liderados por um Brujo, rapta uma das filhas, para tráfico de brancas,  e o reencontro entre pai e filha, em busca da desaparecida.
É também uma história de conflito e conciliação entre crenças e religiões, de desencontros e encontros e de reconciliação.
A certa altura do filme, o Brujo diz a Tommy Lee Jones, o pai, que ele tem dois cães que lutam dentro dele. Um é bom e outro mau. E pergunta-lhe  qual dos dois vai vencer. Ao que o pai responde " o que eu alimentar". Mas, o Brujo objecta "Não, vão lutar até que morram os dois".
Gosto de acreditar que, ao longo da vida, recebemos sinais e que devemos estar atentos a eles, pois que são importantes para  nos ajudar a tomar decisões e a compreender certos factos.
Hoje, sentia-me verdadeiramente triste e impotente. São já muitos, aqueles de quem gosto ou amo que desistem de "viver". Por vezes, é-me difícil aceitar que não conseguimos ajudar as pessoas de quem gostamos. Principalmente, se isso se ficar a dever ao facto de elas não se quererem ajudar a si próprias.
Para não enfrentarem o sofrimento, os seus medos e a si mesmas, preferem refugiar-se no álcool, nas drogas, nos anti-depressivos ou na negação da existência do amor. Ao tentarem fugir à dor, transformam-se em vítimas delas próprias e enchem as suas vidas de tristeza, revolta, inércia e de um sofrimento bem maior do que aquele a que pensam fugir.
Sinto uma pena enorme de que não sejam capazes de encontrar força e inspiração no pôr e nascer do sol, nas plantas a desabrochar, no mar e no céu que nos transportam para o infinito, na beleza de um fim de tarde de verão, nem num gesto simples de amizade ou nos momentos de comunhão com aqueles que amam.
Já perdi demasiadas pessoas que lutaram furiosamente contra doenças terríveis. Elas mantiveram-se fieis a si próprias, às suas famílias e amigos. Mantiveram os sorrisos, a força, a esperança e a garra.
Recordo a minha Tia, que, até ao último dia da sua vida, contrariou o cancro da mama com um sorriso. Recordo a Teresa que, com a mesma doença, lutou como uma destemida, tentando transmitir ao marido e aos filhos, principalmente à mais pequena (10 anos), a fé, a coragem e o amor que sempre guiaram a sua vida. Recordo a Madalena, a quem a diabetes roubou as duas pernas e mesmo assim continuava a trabalhar, que lutou furiosamente contra a morte e se manteve igual a si própria até ao último momento.
Recordo outros mais recentes, os quais, felizmente, conseguiram vencer a batalha com a doença, a mais pequena das quais, a Mariana, tem apenas 3 anos.
Como pode alguém desaproveitar a dádiva que é a vida? Como pode alguém negar-se o direito de procurar ser feliz? Como pode alguém negar que o Amor, a bondade e a esperança existem? Como pode alguém permitir que os seus dois cães interiores lutem até à morte? 
Porque essa morte é a mais triste e inglória de todas e se chama morte em vida.


Comentários