MOMENTOS MÁGICOS IV

Num momento eterno
Perdi meu norte e meu centro.
No meio da imensidão
Vagueei perdida, dorida.
Sem rumo, sem direção.
Queria voltar, mas não podia.
Queria falar, mas da minha boca
Nem uma palavra saía.
A revolta encheu meu peito.
Meu coração sangrava de dor.
À minha volta nada se via.
Apenas escuridão.
Eu procurava a luz que, lá longe,
Difusa, parecia existir.
Mas, do lugar em que estava
Não conseguia sair.
Lágrimas ácidas queimavam meu rosto.
Eu queria voltar, mas não existia caminho.
Perdida, cheia de dor e de mágoa,
Arrastava meu corpo sem vida.
Perdida de mim,
Procurava e não via.
Enrolei-me sobre mim mesma.
Gritei, chorei, insultei,
Mas, o meu grito era mudo,
O meu choro silencioso
E os meus insultos caiam na imensidão
Do imenso vazio que não lhes dava resposta.
Exausta, silenciei o silêncio.
Perdida no vazio e no vazio de mim.
Passaram minutos, dias, anos ou meses?
Não sei, o tempo não fazia sentido para mim.
Depois, a pouco e pouco, lentamente,
Imagens vagas, confusas, chegaram a mim
A princípio não as entendia.
Eram vagamente familiares, mas eram fugidias.
Procurei concentrar-me, agarrar-me ao que via,
E, devagarinho, foram tomando forma.
Foram fazendo sentido.
Então percebi que nelas podia entrar.
Mas, pobre de mim,
Caminhava por ali e ninguém me via,
Falava e ninguém me ouvia,
Acariciava, mas ninguém me sentia.
Sofria, mas ninguém o sabia.
À minha volta  havia dor, tristeza,
Revolta, incompreensão, inação e cobardia.
Havia risos também.
Mas, eu, impotente, 
Não podia consolar, explicar ou alterar,
Nem um dos acontecimentos,
E também não podia rir ou gracejar.
Apenas via, ouvia e sentia, sem poder participar.
O tempo não fazia sentido, mas ele passava.
Naquele mundo tudo crescia e envelhecia.
Mas eu, eu, continuava imóvel no vazio de mim.
Um dia, senti que alguém me sentia.
Alguém que amava, alguém que compreendia.
Invadi-lhe o coração, sem pedir permissão.
Queria falar, mas não sabia como se fazia.
Queria explicar, mas não conseguia.
Mas não parava, insistia, insistia.
Não importava como.
Tinha apenas uma ideia determinada.
Fazer-me entender. Comunicar.
Então, naquele dia,
Fui ouvida, entendida, sentida.
E, quase sem saber como,
O mundo das imagens e sons 
Sentiu-me a mim.
E que sensação de amor, de calor,
De vida.
Cheguei ao coração de quem amava.
Toquei-o, senti-o e ele sentiu-me a mim.
Do meu coração jorra, agora, imparável,
Todo o meu Amor, há tanto tempo retido.
E, da escuridão nasceu a luz.
Das trevas nasceu a cor.
Do silêncio nasceu a paz.
Do meu rancor nasceu o perdão.
E eu, envolta em Amor,
Voo livre, liberta e sem dor.

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