MULHERES DA MINHA VIDA


Mãe e Filha - A minha Mãe e a minha Avó Irene


Há algum tempo atrás, falei dos homens da minha vida. Pois bem, agora chegou a altura de falar das mulheres da minha vida.
Nasci numa casa de mulheres...e nasci mulher.
Nesse tempo, viviam na casa de meus pais, de forma permanente ou por períodos mais, ou menos, longos, várias mulheres. Para além daquelas que eram presenças constantes nos almoços dominicais e dias festivos.
Além da minha mãe, da minha tia Titi, da minha irmã e eu própria, viviam lá em casa, uma afilhada dos meus pais, que estes recolheram quando ficou órfã, três funcionárias domésticas internas e a funcionária da Adega, lugar onde se vendia vinho e diversos produtos hortícolas, laranjas, batatas, cebolas, feijão, etc., da produção de meu pai.
A minha Avó Irene, avó materna, vivia com o meu avô, na casa em frente à nossa e, quando eu ou minha irmã adoecíamos, mudava-se de "armas e bagagens" para a nossa casa, para tratar das netas. Quando o meu avô morreu, tinha eu cinco anos, mudou-se definitivamente lá para casa.
A Madrinha Alice, prima direita do meu pai, estava presente em todos os almoços de domingo, na Páscoa, no Natal e em todas as outras celebrações festivas.
A certa altura, a Madrinha Adelaide, madrinha da minha mãe, senhora viúva, dona de um grande mau feitio e de uma enorme necessidade de atenção, foi também viver lá para casa, durante alguns anos.
Para além destas mulheres, eram também presenças constantes, a Nor, minha primeira grande amiga do coração, neta da nossa, muito saudosa e amiga, cozinheira, a Custódia. Nunca mais terei o prazer de comer as comidas especiais e únicas que saiam das suas mãos mágicas; A Dolores, filha da Etelvina, a empregada "de fora"; a Ama, ou mais propriamente a Gracinda, a quem todos tratávamos por Ama porque tinha sido a ama da minha mãe; E a Senhora Eduarda, madrasta da nossa Custódia. 
Esta era uma casa onde se respirava mulher, falava mulher, vivia mulher, sendo o meu pai o único e muito digno representante do género masculino, qual "menino Jesus na mão das bruxas". 




Tia e sobrinha- Madrinha Alice e a minha Avó Maria Josefa



Avó Maria Josefa


Não conheci a minha Avó Maria Josefa, mãe do meu pai. Faleceu ainda relativamente nova, depois de uma vida recheada de perdas, mas também de risos. Rir, brincar e fazer "chacota" uns dos outros é "propriedade" da nossa família. 
Esta minha avó ficou viúva muito cedo, o meu pai tinha apenas 11 anos e a minha Tia mais nova, a Tité, já nem conheceu o pai. Pelo meio, a minha avó perdeu duas filhas, que ainda crianças faleceram vítimas de doença, e dedicou grande parte da sua vida à minha Tia Titi, que tinha um atraso mental e dificuldades físicas associadas a esse atraso. 
Mas a minha avó era uma guerreira e o sentido de humor acompanhou-a ao longo da vida. Ela era dona de um apêndice nasal de dimensões generosas e, à moda da nossa família, era vulgar meterem-se com ela por causa do dito. A essa chacota, que em nada a molestava, ela sempre respondia "Ora, tomara eu que ele não me doa". 
Esta era a Avó que eu não conheci, mas da qual herdei a gargalhada pronta e generosa, a mania de lavar as mãos várias vezes ao dia e o dedo mindinho espetado para fora, quando bebo qualquer bebida. Provavelmente herdei outras coisas, mas, como não a conheci, não sei quais terão sido. 



As minhas Tias


Titi
A minha Tia já senhora e ainda menina, a pessoa mais doce, pura e terna que conheci na minha vida.






A minha avó Maria Josefa, antes de falecer, entregou-a aos cuidados da minha mãe, que era ainda uma menina também, apenas 21 anos.

A Titi deixou-nos tinha eu apenas 5 anos. Não me lembro do que senti, mas sei que foi a primeira amiga e companheira de brincadeiras que perdi.


Tité

A minha querida Tia que quis dedicar a vida a Deus, mas à sua maneira muito especial, sem tomar votos de freira e sem esquecer que os primeiros a quem amamos são a família.



Como não podia deixar de ser, tinha uma gargalhada poderosa, um sentido de humor agudo e uma forma de expressar o seu carinho tão especial como ela própria, sem grandes manifestações, abraços ou beijos, mas de uma forma única, em que nunca, em momento algum, poderíamos duvidar do seu amor e carinho por nós.
Viveu parte da vida dela dedicada às crianças carenciadas e, mais tarde, gerindo um Seminário, casa de padres e seminaristas. A sua personalidade marcou de forma indelével esses homens dedicados a Deus e, no dia em que partiu, ainda bastante nova, apenas com 54 anos, estavam tão devastados com a sua morte, como a própria família.


Madrinha Alice




Figura frágil e delicada, nervosa, generosa e de coração gigante, começou a "viver" aos 63 anos, no mesmo ano em que eu nasci, quando, finalmente, após a morte do pai, homem sorumbático, rígido e intransigente, tão diferente e destoante do resto da família, "ganhou" a liberdade e pode ser senhora das suas próprias decisões.
Nunca casou ou teve filhos, deixou-nos um duplo legado, mas o maior foi o da sua enorme amizade. 



Avó Irene


Avó Irene (mãe da minha mãe) rebaptizada pelas bisnetas como Avó Ned


A minha avó Irene, pequenina, só no tamanho, vaidosa, ativa e incansável. Recolhia em sua casa todos os desafortunados da sorte, cães, gatos e até andorinhas, que criou a conta-gotas e, obviamente, gente que precisava da sua ajuda. 
Embora não fosse professora, ensinou a ler e escrever inúmeras crianças, incluindo a filha, as netas e as bisnetas. Alma de artista. Escrevia poemas e peças de teatro, sempre humorísticas. Levou à cena todas essas peças com atores amadores, familiares, amigos e outras pessoas da nossa terra. 
Das suas mãos de artista saiam toalhas de renda, rendas de bilros, quadros de flores e outras obras artesanais que não se cansava de aprender. 
Aos 73 anos fez, sozinha, a sua primeira viagem de avião, para ir ter com a neta, a minha irmã, que estava em Angola a acompanhar o marido, durante o tempo em que ele esteve na tropa, na guerra colonial. A minha irmã estava grávida e, sem hesitar um segundo, a minha avó partiu para ir ajudar a criar mais uma menina, a primeira bisneta. Regressou quase dois anos depois, em 1974, sozinha com a minha sobrinha, quando começaram os primeiros rumores de que iria haver uma revolução. 
A marca do seu amor está viva no meu coração, a sua dedicação, a sua vitalidade e aquela estranha capacidade de nunca parecer cansada ou impaciente quando perdia noites tratando de nós, quando estávamos doentes ou precisávamos dela.


Nós 
Poderá parecer estranho, mas não falarei de nós, as mulheres da família presente.
Deixarei para outro momento o falar de minha Mãe, minha Irmã e minha Filha e Sobrinhas. Porque nós estamos aqui, ainda, fazendo história.
Nós, as da foto abaixo, da esquerda para a direita e de trás para a frente:
  • Filipa, sobrinha, Sofia, sobrinha-neta, Kéké (Raquel), sobrinha;
  • Adriana, filha, Mãe e Nuxa, irmã
  • Maria, sobrinha-neta
  • Eu





 


As minhas meninas, há 23 anos. As minhas sobrinhas Raquel e Filipa e a minha filha Adriana, a mais pequenina.


 

Nós, mulheres, quando a Adriana era a mais pequena e a Avó Irene ainda estava connosco



Uma família de Mulheres. Somos mesmo muitas MULHERES, numa família tão pequena.
Grandes sorrisos e maiores corações.
 em Santiago do Cacém


Perdoem-me a vaidade...


 

Espetáculos no Salão Paroquial - Imaginados, criados e com adereços feitos pela minha Avó Irene 


Comentários

  1. Tenho a honra de ter a vossa Mãe como amiga e partilhar com ela bons momentos quando nos encontramos e o gosto pela poesia...
    Clara

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