Prazer

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
                    Liberdade, Fernando Pessoa

É de facto um prazer fazer o que nos apetece, em vez daquilo que é chato, ou aborrecido, ou trabalhoso, mas que a nossa consciência, essa tirana, sem nos dar tréguas, teima em dizer que temos de fazer. E, ela murmura e suplica e chama e grita ...
Às vezes, consigo espantar-me a mim própria. E, pergunto-me porquê' Porquê esta necessidade de criar, escrever, partilhar?
Será que o meu ego precisa de protagonismo?
Não digo que não. Afinal, somos tão dicotómicos, no nosso próprio sentir e querer.
Mas, penso que é bem mais do que isso...
No início, é apenas um inesperado flash, apenas um sussurro, depois a ideia começa a tomar forma e ganha vida própria, crescendo sem controlo, dentro de mim, por fim, transforma-se numa necessidade urgente, culminando num frenesim quase obsessivo.
Então, sem me deter, afasto-me, distancio-me do mundo, quase deixo de ouvir ou ver, seja lá o que for, que não seja o que quero criar, escrever, produzir.
Vem isto a propósito da criação do novo site para o Movimento pela Defesa do Montado de Sobro e do meu novo blog "Projeções de um Perfil Fugidio", dos quais já vos falei em post anteriores.
Enquanto isso, a minha consciência atormenta-me. Finalmente, já rouca, cansada de tanto me chamar, desesperada, articula, desalentada;
Vai acabar a Dissertação, sua louca, que ainda está tão atrasada.
Mas, eu, leviana, em vez de, finalmente, fazer a coisa acertada, levito, de olhos colados ao ecrã e dedos presos ao teclado, escrevendo, alterando, investigando, sem descanso, sem limite e sem cansaço.

Ai que prazer, não cumprir um dever...

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