INÉRCIA

Muitas vezes, quando reflito acerca de mim própria e do mundo que me cerca, apetece-me partilhar com os outros a análise que realizo, para, de alguma forma, partilhar a sequência de constatações e raciocínios que vou fazendo no decurso da mesma. A qual é tanto uma auto-análise, como uma reflexão sobre os acontecimentos e comportamentos que observo diariamente.
A crónica, que ora partilho convosco, foi escrita inicialmente no meu outro blog "Projeções de um Perfil Fugidio", por considerar que esta se encontrava no âmbito dos temas fundamentais do mesmo, mas, porque penso que esta é uma reflexão que não se restringe ao mundo da Educação ou da Natureza, decidi publicá-la, também, aqui.

Lei da inércia ou primeira lei de Newton
Até o início do século XVII, pensava-se que para manter um corpo em movimento era necessário que actuasse uma força sobre ele. Essa ideia foi revista por Galileu, que afirmou: "Na ausência de uma força, um objecto continua a mover-se com movimento rectilíneo e com velocidade constante".
Galileu chamou de Inércia a tendência que os corpos apresentam para resistirem à mudança do movimento em que se encontram.
Alguns anos mais tarde, Newton com base nas ideias de Galileu, estabelece a primeira lei do movimento, também conhecida como Lei da Inércia:
   "Quando a resultante das forças que actuam sobre um corpo for nula, esse corpo permanecerá em repouso ou em movimento rectilíneo uniforme"
 Por outras palavras, isto quer dizer que, se qualquer coisa está em repouso, terá tendência a continuar em repouso, até que alguma força atue sobre esse corpo. Por outro lado, se estiver em movimento, terá também tendência a continuar o seu movimento, até que uma força atue sobre si.
 Quanto maior for a massa de um corpo, maior será a sua tendência para manter a sua velocidade. A esta propriedade chamamos inércia.
in Explicatorium

A inércia é de facto uma propriedade ímpar que, por mais extraordinário que pareça, tanto se aplica à física como a muitos comportamentos das pessoas.
Certamente, todos nós já nos deixámos conduzir pela inércia, em algumas ocasiões da nossa vida. 
Se não vejamos: 
Quantas vezes adiamos trabalhos ou decisões, apenas por inércia?
Quantas vezes seguimos as opiniões ou adotamos os comportamentos da família, dos amigos, dos colegas, dos correlegionários, etc., não porque concordemos com eles, mas, apenas por inércia?
No entanto, se, em algumas circunstancias da vida, não é grave que nos deixemos levar pela inércia, outras há em que esse comportamento pode ser prejudicial, negligente, ou até criminoso.
Se as nossas escolhas, decisões, opiniões ou ações forem guiadas apenas pelo senso comum, estas poderão  ser um atentado a nós próprios ou aos outros e na sua origem está a inércia "se estiver em movimento, terá também tendência a continuar o seu movimento, até que uma força atue sobre si.".
Foi o senso comum / inércia que permitiu que existisse escravatura, antisemitismo ou racismo e, consequentemente, todas as atrocidades a que estes conduziram.
Nos países islâmicos, é o senso comum que permite que as mulheres estejam sujeitas a enormes desigualdades, incluindo o serem apedrejadas até à morte.
É a inércia que nos impede de participar nas decisões e atividades importantes para a comunidade, para o país, ou para o mundo.
Da mesma forma, é a inércia que conduz aos desacatos nos jogos de futebol ou nas manifestações..
Se somos inertes, só entramos em ação, quer para agirmos, quer para ficarmos parados, se uma força exterior  nos obrigar a "andar", ou a "parar".
A autodeterminação é o inverso da inércia. Contudo, nem sempre é necessário estarmos contra o senso comum, contra as opiniões ou atitudes dos outros, ou contra ver televisão. Aquilo que a autodeterminação nos permite é decidir, decidir se ficamos "parados" ou se "andamos".
Decidir implica, ou deveria implicar, reflexão. A reflexão pressupõe que se conhece o objeto sobre o qual se reflete.
A forma como educamos e as decisões que tomamos em relação à Educação, deveriam ser o resultado de profunda reflexão.
Decidir se vamos permanecer na cidade ou voltar ao campo, deveria ser resultado de profunda reflexão.
A forma como contribuímos, ou não, para o desenvolvimento, crescimento, justiça e políticas do país e do mundo, deveria ter sido e deveria continuar a ser objeto de profunda reflexão.
Se persistirmos em viver em Inércia, cairemos do cavalo, em velocidade, se ele parar subitamente. 
Seremos arrastados pela turba em movimento. 
Permaneceremos mudos e quedos, enquanto o mundo se desmorona à nossa volta.
É urgente que pensemos e ensinemos os nossos filhos a pensar. É urgente que esse ato de pensar nos conduza a ações que não dependam da inércia, ou seja, que não dependam das forças exteriores que nos param, ou que nos obrigam a mover.
Só os seres pensantes têm capacidade para alterar os acontecimentos, contribuir para o desenvolvimento e crescimento do mundo.
Os seres não pensantes apenas se adaptam às circunstâncias e elementos exteriores, tendo como único talento o instinto e como único objetivo a sua própria sobrevivência. 



Comentários

  1. O mundo desmorona e pensamos que enquanto ele não estiver caindo sobre as NOSSAS cabeças, estará tudo bem. Acho que é instinto de sobrevivência, só que sobreviver não é o mesmo que viver. Excelente crônica!

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