Criado para mim


Será que já lhe aconteceu deparar-se com o emprego ideal, a casa ideal, o par ideal, a viagem ideal?
Será que já sentiu que aquela situação, objeto ou pessoa pareciam ter sido criados propositadamente para si?
Que se moldavam a si como uma segunda pele, da mesma forma que aquele maravilhoso par de sapatos, que usou até já não ter forma, nem cor, se adaptava aos seus pés?
Mas, por qualquer razão incompreensível, escaparam-lhe das mãos, como se de grãos de areia se tratasse?
Pois é, recentemente aconteceu-me isso mesmo... Julguei ter encontrado, finalmente, algo que, do ponto de vista profissional,  me realizaria totalmente, pois se enquadrava quer  nos meus conhecimentos académicos, quer no âmbito das profissões que exerço, ou exerci, relacionadas com a comunicação, educação e formação, as quais sempre me deram grande prazer, quer ainda nos projetos mais acalentados e atividades voluntárias, transversais a toda a minha vida.
Infelizmente, tudo não passou de uma quimera e, paradoxalmente, também se desfez em pedaços uma atividade voluntária a que me dediquei com devoção.
Sinto-me profundamente triste... Não direi desiludida, porque não sou dada a grandes ilusões... Se insisto nas coisas, é porque sou realmente teimosa e levo a sério todas as coisas em que me meto, às quais me dedico de alma e coração.
Por que isto acontece numa altura em que vivemos uma crise profunda, de consequências imprevisíveis, essa tristeza ainda toma uma maior dimensão, pelo facto de, mais uma vez, ser obrigada a constatar que o mundo e as gentes ainda não compreenderam que só lhe sobreviveremos se estivermos unidos, se trabalharmos esforçadamente, se acreditarmos no que fazemos.
Tristemente, constato que falar, dizer mal, criticar, apontar erros, são atividades a que a grande maioria das pessoas gosta de se dedicar.  Mas, fazer, labutar, criar alternativas, já é uma outra conversa.
Show off nunca foi o meu género, gosto de matéria, não do barulho das luzes, gosto de criar, não de destruir, gosto de falar claramente, olhos nos olhos, não gosto de subterfúgios. Gosto de viver e sentir as coisas,  não de colecionar relíquias ou afogar os amigos e conhecidos na coleção de fotografias das viagens, nas "imensas" coisas que fiz, ou das gentes "importantes" que conheci e com quem me relacionei.

A razão pela qual me orgulho tanto da minha família, não tem a ver com os bens materiais que me legaram, nem com a educação ou qualidade de vida que me proporcionaram,  mas sim com a integridade, honestidade, humanitarismo, generosidade e dedicação, às suas atividades profissionais ou voluntárias, que revelaram ao longo das suas vidas. E, esse sim, foi o seu grande legado e a minha mais valiosa herança.  

No fim de semana passado fiz uma pequena escapadela, um pequeno luxo. No regresso passei por Setúbal, mas antes fiz a travessia do Sado, no ferry boat - Tróia - Setúbal - e vi uma família de golfinhos.
Ainda que o  céu estivesse rabugento, sentia-me alegre, quase, poderei dizê-lo, emocionada. 
 A razão? Uma coisa bem simples... Os restaurantes junto ao rio estavam todos cheios, os tais do famoso choco frito de Setúbal.... 
Senti-me feliz porque ali havia gente que tinha o seu restaurante de portas abertas e podia trabalhar e gente que podia pagar um almoço. 
O dia estava cinzento, mas um raio de esperança iluminou o meu dia... 
Ali, de olhos postos no Sado, onde brincam famílias de golfinhos, o sol teimava em passar através das nuvens, sustentando a esperança de nunca está tudo perdido.

Comentários

  1. Ah minha amaaada que coisa...mas não desanime não! Vc tem força e luz suficiente para prosseguir. Não foi dessa vez? Então, não era pra ser. E logo adiante aparecerá esse "sonho perfeito/ideal".
    Beijuuss Tê

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  2. Fico triste ao ler o seu pensamento da sua vida ....mas não desanime atras daquela moita estará um coelho bem melhor !!! Força e Páscoa Feliz . Formanda: Sónia Santos - Grândola

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