DESPERTAR



Abro lentamente os olhos, ainda pesados, sonolentos. O mundo em meu redor parece meio desfocado. Sinto dificuldade em interpretar as imagens, que os olhos me devolvem, desse mundo estranho e um pouco hostil.
Espreguiço lentamente o meu corpo, ainda meio adormecido. Ergo-me com dificuldade  e caminho cambaleante, como um ébrio.
As recordações atropelam-se na minha mente.  Recordo um ontem, ainda recente, como se de um sonho, cinzento, pesado e inerte, se tratasse. Recordo esse ontem como se esse não fosse o meu passado, mas, sim, o de alguém que abusivamente usou o meu corpo e a minha mente para viver por mim.  
Recordo-o como algo fora do meu controlo, onde não reconheço a personagem que represento.
Desperto lentamente para a vida....
Como num passe de mágica dois anos se passaram...
Encaro-me no espelho e vejo a mulher que sou. Passo suavemente as mãos pelo meu rosto, braços e por todo o meu corpo. Reconheço-me.. Um sorriso distende meus lábios, marca meu rosto, de mulher madura, e chega-me aos olhos. 
Sinto-me frágil, como se em recuperação de uma longa doença, mas sinto-me eu.
 Analiso a estranha que viveu em mim, nesse longo "ontem". Despeço-me dela sem saudade, ainda que lhe agradeça tudo o que me ensinou sobre hiperatividade, projetos, sonhos, paixão, insegurança, tristeza e depressão.
A vida é aqui e agora. Complexa, desafiadora, por vezes injusta, mas apaixonante e espantosa...

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