Entre Caminhos e Labirintos


Há 2 anos, em Julho, na mesma altura em que criei este blog, entrei num processo de depressão, o qual se arrastou até agora, tendo tido diversas manifestações e transformações.
A causa? 
Bem, penso que as causas foram várias e de diversa natureza, incluindo fisiológicas. 
Resumidamente, penso que, somente nesse ano, quando estava prestes a fazer 51 anos, é que me dei verdadeiramente conta de que tinha entrado na "casa dos cinquenta", aquele "lugar" de onde apenas se pode ir para o envelhecimento ou para a morte.  A doença, a perda de faculdades e o depender dos outros, sempre foram coisas, para mim, muito assustadoras e, naquela altura, tomei consciência de que o processo de envelhecimento se tinha iniciado, ainda que, felizmente, eu não sentisse nenhum dos seus efeitos.  Tornei-me, também, consciente do que significa, física e psicologicamente, ter que deixar ir os últimos resquícios da juventude.
Por outro lado, entrei na menopausa, o que provoca sempre diversas alterações fisiológicas.  Como se tivéssemos que nos habituar a um novo corpo, com o qual não nos sentimos muito à vontade.
Contudo, essas alterações não são só fisiológicas ou, pelo menos, têm reflexos profundos a nível emocional.
Para além disso,  como toda a gente, também eu tenho as minhas frustrações, desejos ou objetivos não alcançados, preocupações e problemas, alguns deles que já se arrastam há algum tempo e sem que se consiga ver muito bem como se poderão solucionar.
Acresce que, a partir de 2011, entrámos, declaradamente, na mais grave crise económica, financeira e de trabalho, de que há memória, tanto mais grave quanto não se vislumbram grandes soluções,  num futuro próximo.
Talvez por tudo isto, talvez como uma espécie de negação, comecei a dedicar-me ainda a mais coisas em simultâneo, como se tivesse sido tomada por uma espécie de frenesim, criando "ruído" de fundo para não ouvir o que a minha alma, o meu espírito, a minha cabeça, o meu corpo diziam, gemendo, confusos.
Assim, para além da família (marido e filhos), a restante família, os amigos ou conhecidos, que sempre precisam uma "mãozinha", 3 casas, em localizações completamente diferentes,  que precisam da minha atenção, o trabalho, as formações, que dou, de vez em quando, sempre nas minhas férias,  a minha atividade como silvicultora e o mestrado, criei, também, este Blog, a Página e Grupo de solidariedade "Fantástico 2012", o Movimento pela Defesa do Montado de Sobro, o qual implicava diversas reuniões, realização de projetos,  criação de site, página, grupo, recolha de assinaturas, etc, e mais outros três grupos no facebook "Clube de Estórias", "Fórum Educação e Natureza", "Fotografar Santiago do Cacém" e, mais recentemente, um outro Blog "Projeções de um Perfil Fugidio", direcionado para dois temas que me apaixonam, educação e natureza, e as situações políticas económicas e sociais que os envolvem.
Sou, por natureza, uma pessoa realista, prática, ativa, comunicativa e alegre, mas, reconheço, agora, há sempre uma altura na vida em que temos de pedir ajuda, porque a nossa força interior, a nossa energia, já não são suficientes para carregarmos o nosso fardo.
Sempre fui, o mais possível, contra o recurso a medicamentos para combater a depressão ou outros estados psicológicos considerados, por mim, como menos graves.  Sempre achei que se temos problemas devemos enfrentá-los e resolvê-los, ou, caso não seja possível, aprender a viver com eles. Sempre detestei a ideia de tomar comprimidos para dormir, acordar ou ser capaz de sorrir
Por essa razão, passei por todas as fases de uma depressão, absolutamente sozinha, porque, inicialmente, nem a reconheci como tal, achei apenas que estava na altura de arrumar coisas na minha vida e preparar-me para enfrentar o envelhecimento progressivo que inevitavelmente iria acontecer. 
Numa primeira fase, vivi ansiosa e apaixonadamente, como se tomada por uma febre estranha. De facto, arrumei muita coisa, principalmente do meu passado, com o qual convivo muito bem, e do qual guardo recordações gratas, felizes e/ou divertidas e, também, outras menos boas, mas que me deram experiência, conhecimento, sabedoria e a certeza de que, por mais complicada que uma situação seja, conseguimos sempre arranjar forma de a ultrapassar, de viver para além dela.
A segunda fase, levou-me a um local de insatisfação, de sentimento de inutilidade, de incapacidade para alcançar objetivos, de sentimentos de culpa.  O meu corpo debatia-se. Fiquei doente, com uma tensão arterial máxima de 8,5 e uma temperatura que variava entre os 35ºC  e os 35,5ºC. Fui ao médico, fiz uma série de exames e acabei por melhorar, pelo menos fisicamente. Mas continuava a não aceitar a depressão como algo que me tivesse atacado, também, a mim.
Finalmente, na terceira e última fase, perdi a vontade de viver. Vivia para cumprir as minhas obrigações, envolta por um sentimento de tristeza permanente. 
Eu, faladora que sou, deixei quase de comunicar.  Não me apetecia falar com ninguém. Não me apetecia telefonar para ninguém. Não me apetecia sair de casa.  Qualquer feriado era pretexto para ficar em casa, sozinha, sem fazer nada.
Ao longo deste processo, nunca falei com ninguém do que me estava a acontecer.  Inicialmente falei de coisas que sentia, mas de uma forma que não deixava transparecer que isso fosse um problema de depressão ou qualquer outro problema psicológico.
Há cerca de um mês e tal, percebi, finalmente, que já não me reconhecia a mim própria, que estava a chegar ao fundo do poço e que precisava de ajuda, talvez tenha sido o meu instinto de sobrevivência que me chamou à razão.
Fui ao médico. Falei abertamente de toda a situação.  Na mesma altura, por outras razões, fui ao cirurgião vascular que me disse que eu necessitava fazer umas massagens especiais de drenagem linfática.
Desde essa altura, tomo dois medicamentos, um para dormir sem" matutar", outro para estar bem disposta, nenhum deles me faz sono ou me tira energia.  Apenas me fazem sentir "normal", bem. Também faço ginástica, massagens e até comecei uma dieta, comendo várias vezes ao dia.
Voltei do fundo do poço.  Voltei a ser eu.  O meu sorriso voltou para mim.
Perguntar-se-ão porque lhes conto tudo isto.  Afinal, é algo intimo e muito pessoal.  Pois é, é precisamente por isso, por se tratar de uma depressão, que poderia ter tido consequências desastrosas, que lhes conto tudo isto, porque vos pode vir a ser útil, para que não deixem que vos aconteça o mesmo.
Continuo a achar que devemos tentar sempre resolver os nosso problemas e que, tanto quanto possível, devemos evitar refugiar-nos em medicamentos para acordar, dormir e sorrir, mas, há sempre um dia que podemos não os conseguir evitar, pois evitá-los pode querer dizer que deixamos de nos reconhecer a nós próprios, de ter capacidade para amar ou mesmo para viver.


Dedico este texto ao meu marido, porque ao longo destes 2 anos se manteve ao meu lado, igual a si próprio, sem reclamar das minhas mudanças, mau humor e falta de "amor".

Comentários

  1. Bom dia! Teu depoimento é corajoso, e tão humano! Estou com 47 anos - faço 48 em setembro - e confesso que envelhecer também me assusta, principalmente, porque somos apenas meu marido e eu. Não tivemos filhos, por opção. Mas não acho que ter filhos teria feito com que eu me sentisse diferente hoje. Acho que nossas vidas são cheias de ritos de passagem: fazer dezoito anos, o primeiro amor, a primeira decepção, a formatura, o primeiro emprego, casamento, etc... e envelhecer está incluído. Vemos os que amamos envelhecendo, tornando-se fracos e dependentes. Depois, começa o período das perdas: Começamos a perder pai, mãe, avós, tios, amigos. Todo período de passagem pode tornar-se confuso a qualquer momento. Mas como dizem, quando a gente chega ao fundo do poço, o único caminho é fazer o caminho de volta para cima. Boa sorte!

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  2. Ah minha irmã...semelhança pouca é bobagem! No meu caso, depois de 02 anos e meio resistindo à medicação ( em casa de ferreiro o espeto é de pau) sucumbi à medicação e tenho mais que agradecer. Vamos seguindo diariamente...Meu mantra? Só por hoje obriagada PAI!
    Beijuuss amorosos e solidários nessa sua alma iluminada.

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  3. Não tão anónima assim, porque sou a irmã mais velha, mas, como sabes, mana, não me meto em Facebook, nem em blogs, nem em nada que me faça ficar ainda mais tempo agarrada ao computador, a conversar com amigos e conhecidos surgidos do presente e do passado.
    Costumo fazer os meus comentários em privado, mas, desta vez, e porque me dirijo não só a ti, mas também às tuas leitoras, resolvi comentar aqui mesmo.
    Fico contente que tenhas, finalmente, tratar da cabeça, como eu já tinha sugerido mais do que uma vez!Também já fiz o mesmo, quando foi necessário, por razões muito diferentes!
    Mas o que quero, principalmente, dizer aqui é que não vale a pena ficarmos preocupadas por fazermos anos, eu vou fazer 61 em Outubro e só ficava preocupada se não os fizesse!
    Também não vale a pena começar a magicar que vamos para velhas e a caminhar para a reta final, porque, de contrário, não aproveitamos a caminhada!
    Não vale a pena lamentar-nos porque estamos mais gordas, temos celulite, precisamos de óculos para ler e nos doem as cruzes de vez em quando! Paciência, estamos cá, não estamos?
    O que vale a pena é aproveitarmos tudo o que temos, principalmente os nossos amores, quaisquer que eles sejam, as coisas que temos para fazer, os passeios que pudermos dar, enfim, tudo o que nos der prazer e até as obrigações que sejam chatas!
    O futuro ainda está por vir, vivamos o presente o melhor que conseguirmos!
    Hoje, por exemplo, fui até à praia com os 4 netos e uma amiga deles. Não foi a prainha sossegada, a ler o meu livro, mas foi bom!
    Beijinhos.
    Nuxa

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