DORMÊNCIA

Murmuro repetidamente a  palavra desilusão, até que perca o seu significado.
Até que do sentimento restem apenas sons vagos, que pairam no ar, sem sentido, nem direção.
Fixo intensamente o horizonte, até que as imagens desfoquem.
Até que do pensamento restem apenas cores difusas e esborratadas.
Distancio-me de mim, do mundo e de tudo o que me provoca dor, tristeza ou tensão.
Vagueio por um Universo imenso, solitário, silencioso, belo e amoral.
Lá não existem penas, nem glórias, punições, desafios, injustiças ou obrigações.
Lá tudo é intemporal, tudo acontece num movimento lento, indefinível, imutável, indeterminável, insensível  e natural..
Resisto ao retorno à realidade fria, agreste e indiferente.

Recosto-me na fina, peganhenta e inabalável teia da vida, sem permitir que me roce a alma.
Protejo-me na maciez da jovem folhagem verde.
Por mais selvagem e cruel que seja, a Natureza nunca me desiludiu.
Uma retardatária gotícula de chuva desprende-se da folha e escorre-me pelo rosto, confundindo-se com as minhas salgadas e alvas lágrimas.
Num mundo, agora vago e confuso, tudo perde dimensão, valor e importância.

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