A noite amena, de verão, aconchegava-se no seu manto de veludo, azul, enfeitado de estrelas brilhantes. O mar trauteava, sereno, a sua eterna canção, num contínuo ir e voltar.
Por momentos, o ritmo imparável do tempo cessou. No silêncio da madrugada, nada se movia. Então, subitamente, a magia foi quebrada.
Passos cansados e lentos fizeram ressoar, pela noite, o estranho rangido da areia; gemidos em surdina e o som de algo pesado que se arrasta; o ruído característico de um bote fazendo-se à água.
Novo gemido, um baque surdo, um remo agitando as águas e eis que o som do ondular suave, do pequeno barco, se uniu à canção do mar.
O homem remava de pé, rígido e silencioso. O tempo e a dureza da vida tinham cavado sulcos profundos no seu rosto, inexpressivo e de olhar parado.
O Velho fitava o céu, indiferente ao brilho das estrelas e aos frios salpicos de água.
A vida roubara-lhe o seu último tesouro, já nada o movia ou agitava.
Ferido, no lugar mais sagrado do seu ser, o Velho, ainda que vivo, já se encontrava sepultado.
Vagueava pelo oceano, há horas, sem objetivo ou direção. Cansado, pousou o remo, ajeitou a velha manta coçada e deitou-se, fitando as estrelas com os seus olhos baços e sem vida.
O sol encontrava-se no zénite, a brisa afagava-lhe suavemente os, vagos, cabelos loiros e ele sorria, feliz, deitado na relva, tentando apanhar as folhas que redopiavam, na sua dança outonal.
Sentia-se leve, sereno e em paz. Vivendo dentro de um sonho, de que não queria acordar.
Desde menino, sempre fora um sonhador, as suas mãos hábeis, curtidas do sol e do trabalho rude do mar, sabiam ser meigas e delicadas e o seu coração generoso atravessara a vida corajosamente, mas, no mais intimo de si, vivia, adormecida, a criança que gostava de espreitar a vida, através de encantadas bolas de sabão.
Um suspiro profundo elevou o seu peito frágil e cansado. As memórias dos tempos felizes suavizaram-lhe a expressão. Todos, os que tinham dado sentido à sua vida, haviam partido. A última, a sua eterna e amada companheira, partira numa noite de tempestade, calma e sem medo, deixando-o sozinho e perdido, num mundo que já não tinha beleza, sentido, nem bolas de sabão.
O brilho esplêndido de uma estrela chamou-lhe a atenção. Quase lhe podia tocar.
Então, estendeu as suas mão de Velho, agora menino, e tocou a estrela, sentindo-a no seu coração.
Partiu, pacificado, na sua derradeira viagem, mirando o Mundo, encantado, de dentro de uma bola de sabão.
Fotos de Photography
Só posso dizer que é belíssimo, e tomara que seja assim... tenha um lindo dia!
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