RIO

 


As águas desse rio,
Que  beija meus pés,
Correm, determinadas,
Para o imenso Oceano.

Mas estas não são as águas
Que lavaram meu rosto,
Limparam minhas feridas,
Dissolveram minhas lágrimas.


Este é o rio de uma vida,
Que não é minha,
Nascido de uma quimera de ilusões.

Os sonhos, sonhados, desfazem-se
Na espuma branca das águas revoltas.
Sem glória, nem memória,
Revolteiam no ar,
Tombando inertes.
Da sua efémera vida
Subsiste apenas um tapete, 
Castanho, amarelo, vermelho escuro,
Crepitando, no disfarce da dor,
Ao ritmo dos passos indiferentes,
Que o pisam sem piedade.




Que véu é esse que torvou minha visão?
Dissimulou a realidade?
Pintou de rosa as sombras negras?
Mistificou as gentes do Mundo?
Navegando de ilusão?



Reconheço a impotência...
O imponderável controlo...
A ausência...
A solidão...
O medo....
A desilusão...

A guerra eterna,
A luta feroz.
Por fim, quase vencida
Minha arqui-inimiga: Eu...
Mas, meu coração renova, em silêncio, a coragem perdida.
Revelando-me a inutilidade da luta.
Implorando tréguas, rendo-me
Ao amor de mim.




Num gesto corajoso,
Carregado, ainda, da acidez do confronto,
Reúno  o ancestral perfume,
Das imortais flores,
No doce afago de minhas mãos endurecidas.

Este é o momento da viragem.
Aquele em que ouso acreditar ter descoberto
A Grande Verdade.
Não passa, no entanto, de um novo retorno,
Àquele que é e será sempre Eterno....
 .

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