SER POSITIVO

À evolução e alterações das sociedades, ao longo dos séculos, corresponderam, também, diferentes modas. Quando me refiro a modas não estou apenas a falar das características distintivas de cada época, no que se refere ao vestuário ou às artes, mas também aos comportamentos.



No século XIX, em pleno Romantismo, as pessoas deambulavam por lugares bucólicos, ostentando rostos macilentos e olhares nostálgicos e manifestavam uma atitude dramática, resignada ou austera, certamente influenciados pelos autores românticos que se voltaram cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Diferentemente do século XVIII que foi marcado pela objetividade, pelo iluminismo e pela razão, o início do século XIX foi a era do lirismo, da subjetividade, da emoção e do eu..

Atualmente, vivemos num turbilhão de afazeres profissionais, desportivos ou lúdicos. As normas ou tabus sociais dizem que devemos ser viajados, elegantes, magros e/ou musculados, de tez morena, à custa  do solário ou dos dias passados na praia. Somos valorizados não só pelas nossas habilitações académicas ou conhecimentos, mas também pela nossa energia e atividade, ou, mais exatamente, pela nossa proatividade, competências e capacidade de liderança ou de trabalhar por objetivos e em equipa.
Mas, todos estes requisitos da "moda" supõem um outro, absolutamente essencial para que os restante  sejam sustentáveis e façam sentido, o sermos positivos.  
No Mundo Ocidental que vive a Era da Globalização, da Sociedade Reflexiva, da Educação e da Positividade,  são inúmeras e constantes as publicações ou eventos que nos ensinam e incentivam a que sejamos positivos, pois só assim nos poderemos sentir felizes e ser bem vistos e reconhecidos pela sociedade.



Sem necessitarmos fazer uma grande pesquisa no google ou qualquer outro motor de busca, encontramos inúmeras referências ou publicações, das mais diferentes áreas, relativamente ao imperativo de sermos positivos, na atual sociedade. 


Não pretendendo fazer um rol exaustivo de todo esse tipo de referências, menciono três delas, por me parecerem mais significativas e abordarem o tema de perspectivas absolutamente distintas, ou talvez não. 
São elas a Psicologia positiva, o Coaching  e a Lei da Atração (corrente mística?, particularmente divulgada pelo "O Segredo").


Será que de facto necessitamos de Gurus, Coaches, Psicólogos, publicações de autoajuda, ou conjuntos de regras e leis para conseguirmos alcançar a felicidade?
Será que todos esses oradores, escritores ou orientadores, postos perante problemas realmente graves e complicados, conseguirão aplicar as "receitas" que prescrevem para os outros?
Será que não foi a busca da felicidade que sempre "moveu" os homens, desde os primórdios da humanidade?
Será que todas estas "receitas", prescritas por todos estes "Guias" da atualidade, não passam apenas de uma compilação de saberes, desse ancestral e inato instinto de sobrevivência, não apenas no sentido orgânico ou físico, mas de uma forma abrangente, a qual se traduz por termos a capacidade física, psicológica e emocional de ultrapassarmos as dificuldades, com que nos deparamos ao longo da vida, e, mais do que isso, de lutarmos pelos nossos desejos, sonhos e necessidades, sejam elas de que tipo forem?
Por vezes, tenho a sensação de que toda esta proliferação de orientações, guias e autoajudas não passam de algo tão básico e simultaneamente tão transcendente como tentarmos compreender a nossa verdadeira essência e encontrar um sentido para as nossas vidas.


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