Quieta, respiro lentamente, deixando-me envolver pelos odores que me rodeiam. De olhos semicerrados, fito o horizonte longínquo, buscando a paz que o meu pensamento agitado não me permite encontrar.
Todos os meus sonhos parecem distantes, irrealizáveis, imateriais.
Cansada, inspiro profundamente. Uma longa fila de momentos, desalentos, fracassos, injustiças, objetivos falhados, perfila-se na minha mente, ofuscando a luz do sol, o carinho e a esperança.
Revejo-me, menina, num lugar distante onde todos os sonhos são possíveis. Onde o verde nos abraça de frescura e vitalidade. Onde o céu, azul, nos protege da rudeza do caminho e das inclemências das estações.
Revejo-me, mulher, enlaçada num sonho de amor, onde não há frio, desanimo ou crueza.
Revejo-me, mãe, carregando preciosos fardos, feitos de esperança, ternura, devaneios.
Ou guiando pela mão essa parte de mim que se fez gente, em busca do céu aberto onde livre poderá voar.
Revivo o derradeiro sonho.... O meu rosto pacificado... O meu coração de portas abertas.... Segura de que o mundo me acolherá com doçura.... E o cruel despertar para uma realidade crua, rude e sem brilho.
O frio de realidade entra-me nos ossos, enregelando-me, mas recuso-me a deixar que o meu coração ceda.
Ergo-me das entranhas da terra, oferecendo-lhe flores.
Esta, indiferente, recolhe as minhas dádivas sem um sorriso.
Procuro nos Anjos, o aconchego que a terra dura me recusou..
Mas, estes, sorrindo beatificamente, ignoram o meu rogo, a minha dor, o meu lamento.
Sinto as suas mãos carinhosamente pousadas nos meus ombros. Mas, indiferentes aos meu projetos e sonhos, olham-me com indulgência, revelando-me que no mundo de Deus nada disso tem importância.
Recolho-me então na minha concha, dorida, desenganada, lavada nas lágrimas das ilusões desfeitas.
Decido, então, adormecer para a vida. Concentro-me no meu eu egoísta e solitário. Mas, a mágoa, de não alcançar o sol, nem as estrelas, nem mesmo uma réstia de luz, desperta-me.
Consigo ver-me idosa, triste, sem glória, sem a força das quimeras.
Sozinha, de mãos estendidas, aguardando em vão pela esmola de uma hipotética gloriosa vida eterna.
Vergada sobre o peso da minha arrogante tristeza, decido partir numa viagem sem destino, num barco sem leme, da qual não sei se irei regressar.
Se a Divindade assim o quiser, um dia voltarei, em glória, amparada pelas suas mãos, gritando felicidade.
Imagens: BRUNO’S ART & SCULPTURE GARDEN
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