ACERCA DA MORTE

Uns chamam-lhe coincidência, outros entendem-no de uma forma mística ou espiritualizada, deixo ao critério de cada um a forma como o interpreta, mas o que é facto é que estava eu a pensar escrever acerca da morte, quando tropecei com a partilha de um artigo "Cancro: afinal, é permitido chorar", do jornal Público, no Facebook.

Do mesmo, reproduzo uma frase /conceito, com o qual concordo de forma particular "tirania do pensamento positivo" e sobre a qual já tive ocasião de me pronunciar, mais de uma vez, em alguns artigos publicados neste blog, tais como "Ser positivo" ou "RECEITAS MILAGROSAS PARA UMA VIDA DE SUCESSO".
Do artigo/ notícia do Público, destaco ainda a reflexão de Sónia Silva, coordenadora da unidade de apoio de psico-oncologia de Coimbra da LPCC "As pessoas agem desta maneira para se protegerem e para protegerem os outros. O doente procura não mostrar que sofre para não fazer sofrer a família; a família mantém um sorriso e assegura que tudo vai correr bem, porque acredita que disso depende a cura; os amigos aconselham esperança e espírito positivo, porque acham que estão a ajudar... Por outro lado, calando, pensam que se protegem da dor. É um círculo vicioso muito difícil de quebrar".
É claro que é importante tentar manter o pensamento positivo, pois a maior parte das doenças têm sempre, em maior ou menor grau, uma componente psicossomática, componente esta que pode influenciar negativamente o processo de cura e, também, porque se estivermos deprimidos, é-nos mais difícil reagir, tomar as atitudes mais adequadas ou até de pensar e decidir com objetividade, além de que, como é evidente, se estivermos mais debilitados, física, psicologicamente, ou ambas as coisas, o organismo tem mais dificuldade em lutar contra a doença.
Um diagnóstico de cancro não tem que ser, necessariamente, uma sentença de morte, mas é sempre algo muito assustador, quer pelo sofrimento físico e psicológico a ele associado, causado tanto pela doença, como pelos próprios tratamentos, quer pelo incontornável espectro da morte,  quer ainda pelas diversas implicações a nível familiar social e laborar.
No entanto, da mesma forma que é importante que o doente e quem o rodeia não se deixem dominar por pensamentos derrotistas, é igualmente importante que se sintam no direito de chorar, estar tristes, revoltados ou zangados.
O apoio dos familiares e amigos é imprescindível, mas também o podem ser os momentos de solidão ou, até mesmo, o convívio com estranhos, com quem não se tem ligações afetivas, com quem não é necessário falar, ou evitar falar, da doença ou do sofrimento, a quem não é necessário proteger.
Cada pessoa é um mundo. Cada um de nós tem a sua forma muito própria de lidar com as adversidades ou a doença.
É importante que quem está doente sinta que tem direito a ser quem é e a sentir o que sente, que tem um espaço seu, sem se sentir sufocado pela solicitude dos outros, ou pelos seus constantes apelos à positividade.
A morte é algo inevitável na vida de todos nós. Ela é mesmo a única coisa que temos garantida desde o momento em que nascemos. 
O sofrimento não é opcional. A vida confronta-nos com ele inúmeras vezes e de múltiplas formas.  
A única coisa que é opcional na nossa vida é a forma como enfrentamos e lidamos com todas as circunstâncias e desafios dessa mesma vida. 

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