A TIRANIA DA MENTE

No final, seremos sempre reféns da nossa mente.
Quantas vezes já perguntou a si próprio por que disse aquilo, ou reagiu de determinada forma? 
Quantas vezes já prometeu a si mesmo mudar um comportamento ou atitude, acabando, no entanto, por, invariavelmente, continuar a repeti-los, quase de forma inconsciente? 
Quantas vezes já disse para si mesmo "não vou responder, não vou dizer nada" e quando se dá conta já disse?
Isso acontece porque, na verdade, somos quem somos e nunca poderemos fugir completamente da nossa própria essência.
Cada ser humano é um conjunto de características genéticas, hereditárias, ou não, e idiossincráticas, as quais são moldadas pelo ambiente que o rodeia, familiar, social, religioso, político, etc., e pelas diversas experiências que vai vivendo ao longo da vida. 
Aquilo que torna cada ser humano um ser único não é o ambiente que o rodeia, nem as experiências a que é sujeito, mas sim a forma como reage a estas e a forma como estas o afetam.
Assim, parece existir um certo determinismo em ser aquilo que somos. Contudo isso não nos impede de fazer alterações profundas na nossa forma de agir, pensar ou mesmo sentir.
A reflexão profunda é, talvez,  um dos poucos recursos, se não o único, de que nos podemos valer, para tentar alterar um percurso de vida, mudar uma atitude ou comportamento enraizado, ou tomar uma decisão importante.
Dizem que não devemos tomar decisões importantes sem dormir primeiro sobre o assunto e dizem também que, quando estamos profundamente irritados, não devemos falar ou agir sem que primeiro contemos até dez, no mínimo. 
Na verdade, o que está na base destas duas diretrizes é uma e a mesma coisa. O dormir ou o contar até dez permitem ou, pelo menos, contribuem para que acalmemos as nossas emoções, as quais, como todos sabemos, são tudo menos racionais.
Não é à toa que em quase todas as religiões se praticam rituais de isolamento, ou semi-isolamento, tais como a meditação, os retiros espirituais, o silêncio auto-imposto ou períodos, mais curtos ou mais longos, de eremitismo.
O isolamento, porque, total ou parcialmente, nos afasta do contacto com outros seres humanos, obriga-nos a um encontro intenso connosco próprios, o qual conduz, quase inevitavelmente, à  reflexão e à auto-reflexão.
Não é fácil, nem para todos, o isolar-se totalmente do resto da humanidade. A perda de contacto com o outro priva-nos de pontos de referência e obriga-nos a enfrentar os nossos fantasmas, o que nem sempre é fácil, nem indolor.
Estranhamente, esse isolamento e confronto connosco próprios, em vez de nos afastar do mundo e dos outros, aproxima-nos de ambos. Criamos uma espécie de simbiose com a natureza, os outros e o mundo, passando a vê-los de uma nova e inusitada perspetiva, como se, de alguma forma, tivéssemos voltado a nascer.
Mas, como é evidente, a maioria não pode, nem quer, viver em permanente isolamento, pelo que muito do que aprendemos, refletimos e projetamos, nesses momentos, acaba por se ir diluindo na rotina do dia a dia e nos problemas, mais ou menos graves, que a vida nos vai colocando.
Alguns serão capazes de dizer que nunca recorreram  a nenhuma destas práticas e que vivem muito bem sem elas. Mas, na verdade, todos temos dentro de nós próprios mecanismos cerebrais que utilizam "técnicas" semelhantes para nos ajudar a "sobreviver".
Às vezes, temos a sensação de que tomamos decisões importantes sem refletir profundamente, analisando os prós e os contras, mas ainda que isso possa algumas vezes corresponder à verdade, muitas outras é completamente falso. 
Na realidade, o nosso cérebro vai processando e analisando continuamente toda a informação, interior e exterior, que recebe. Grande parte deste processo é feito sem que, efetivamente, nos dêmos conta de tal.
Assim, aquilo que, muitas vezes, pensamos ser um impulso repentino, é, na verdade, o resultado de uma análise morosa e minuciosa realizada pelo nosso cérebro, da qual temos pouca ou nenhuma consciência.
Mas, uma decisão tomada de forma consciente, após reflexão e análise, tem sempre mais hipóteses de ser mais acertada, pois a análise inconsciente pode ser influenciada e enviesada por uma análise errónea da informação, pois no nosso inconsciente pairam, também, medos, traumas e inconsistências que o cérebro toma como informações fidedignas e que irão influenciar a decisão "por impulso".  
Vem esta reflexão a propósito da profunda reflexão que eu própria tenho feito acerca da realidade política, económica e social em que nos encontramos atualmente, a qual nos pode conduzir a um abismo profundo e quase sem retorno, e à forma como me devo posicionar, defender e atuar, perante a mesma.
Os últimos anos, têm sido, para mim, extraordinariamente interessantes, vistos de uma perspetiva de crescimento pessoal e enquanto expetadora de um mundo em profunda mudança. Mas, também têm sido, à vez, dolorosos, excitantes, preocupantes, ativos e  de mudanças, quase radicais, na minha vida.
Por vezes, temos que agir, falar, alterar, marcar posições e limites. Outras vezes, temos apenas que aguardar que o tempo passe e que o equilíbrio natural se volte a restabelecer.
Difícil mesmo é ter a serenidade para perceber quando é preciso agir e quando é preciso aguardar e manter calma e a objetividade entre esse agir e esse aguardar.

Comentários

  1. Bom dia, Teresa. Um texto muito sensato.
    Ninguém consegue deixar de ser quem é, mas as mudanças são possíveis, e eu procuro mudar para melhor, mesmo que haja recaídas.
    Concordo quando você diz que é preciso serenidade para saber quando agir e quando esperar, em silêncio. Passoo longas horas comigo mesma, e quando, por algum motivo, não posso ficar sozinha pelo menos durante algumas horas por dia, me sinto como se fosse uma taça cheia, transbordando, exausta emocionalmente. Sinto até cansaço físico.
    É no silêncio e na solidão que consigo colocar os pingos nos meus 'is'.
    Excelente post.

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