Carta a um Desconhecido

Olá,....,

Como devo chamar-te? 
Quem és tu? Qual é o teu nome, afinal?
Devo chamar-te amigo, conhecido, companheiro de luta ou, talvez, traidor?
Não, o que melhor te assenta é, mesmo, Desconhecido.
Não conheço o teu rosto, nem sei se és novo, velho ou de meia-idade.
Nada sei da tua história, do teu percurso de vida, dos teus amigos ou familiares.
Não sei onde te abrigas nas noites de inverno, nem onde te reclinas nas tardes quentes e ensolaradas de verão.
Gostas do cheiro da terra molhada? De mergulhar nas ondas selvagens e frescas? De sentir a macieza da relva quente nos pés descalços?
Brincas na chuva? Ou preferes o sopro forte do vento, o branco gélido da neve ou a caricia da brisa, nas noites mornas de verão?
E, o silêncio? Escutas os segredos das folhas das árvores, o trinado dos pássaros ou o borbulhar do rio? Ou preferes o ruído das cidades em ebulição?
Ouves Beethoven, Stravinsky, Wagner, ou preferes a batida repetitiva e metálica, sem harmonia, sem ilusão,  ou o rock, ou, sei lá,  a nostalgia das músicas do anos 70, 80 ou 90?
Desconheço o que te faz sorrir, o que te irrita, o que te enternece, o que te impacienta ou o que adoça o teu coração.
E, o que te faz sonhar? Que lutas travas com garra? Que riscos corres? Quais os teus ódios de estimação?
És um amigo em que se pode confiar? Ou um vulgar oportunista?
Os teus pensamentos? Difíceis de acompanhar. Ora, os de um velho desencantado, ora, os de um jovem imaturo e egoísta.
De onde te vem tanto desdém, tão pouca condescendência?
Que mágoas te deu a vida, para olhares o mundo dessa forma cínica, caustica e desconfiada? 
Sei que és sensível à dureza de um comentário seco, objetivo, realista e conciso.
Mas, brincas com as palavras. Escondes-te nas entrelinhas. Afirmas com petulância. Foges na hora da verdade.
Misterioso foi nosso encontro. Misteriosa foi a tua partida, que, afinal, nunca foi chegada.
Entraste na minha vida, por um momento fugaz. Partiste sem um adeus, um até logo ou até mais ver.
Deixaste apenas perguntas. E a curiosidade de te entender.
Fica bem. Procura ser feliz.

Até sempre,

Teresa 

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