De Alma para Alma

Uma estranha e tentadora atração nos une.
Somos palavra,  sem rosto, sem corpo, sem voz, sem idade.
Não conheço aquele teu franzir de sobrancelhas, que te é peculiar, quando algo te desagrada, nem o teu jeito meio balançado e rápido de andar.
E tu, tu, não conheces a minha sonora gargalhada. Nem o meu olhar crítico e observador.
Vivemos uma estranha e improvável amizade, sem memórias, sem histórias vividas, repleta de mistérios, de palavras não ditas, de segredos não partilhados.
As nossas conversas, inconsistentes, descomprometidas ou quase surreais, não vivem de sonhos, comunhão de ideias ou ideais, ou construção de projetos, nem mesmo da partilha das nossas histórias ou vivências mais marcantes. Mas, serão as nossas conversas banais?
Irrazoável, sem vínculos, sem nada em comum é assim a nossa incomum ou irreal amizade.
Não te perguntes o que nos atrai. Não encontrarás explicações racionais, científicas ou do senso comum.
Deixa que flua essa energia forte que nos atrai. Ela não é inteligível. Não pode ser analisada ou compreendida.
São ancestrais o nosso entendimento, a força que nos atrai, a amizade que nos une e não são deste mundo, das coisas materiais.
As nossas Almas conhecem-se doutras vidas, doutros mundos ou, apenas, de uma outra dimensão.
Elas são feitas de luz, cor, energia. Entendem-se sem palavras, sem promessas, sem explicações, sem protestos, críticas, ameaças ou perdões.
Imateriais, elas tocam-se numa harmoniosa e subtil sintonia. Numa harmonia de sons, indetetáveis  ao ouvido humano.
Pensas que vives. Mas, será que o que vives não são apenas memórias perdidas num buraco negro de uma outra dimensão? Ou vidas que se apagaram há muito, mas que as suas memórias, à semelhança das estrelas, continuam visíveis no espaço, onde o tempo não tem dimensão.
Sabes tu o que é real? A vida aqui e agora! Não será essa vida, apenas, uma ilusão?
E as Almas Negras? Não será que não passam de Almas perdidas na escuridão?
Vejo-te com a nitidez da clarividência. Não com os meus olhos terrenos.
Um dia, fomos Estrela Maior, ou Alma Imensa.... Depois, depois, deu-se a enorme, a imensa explosão...
Desde então, vagueamos, perdidos, pequenos estilhaços da Alma Mãe. 
Na nossa infindável viagem, buscamos partes de nós... 
Eis que nos reconhecemos... A tua Alma....encontra a minha Alma...Uma imensa Luz emerge da escuridão....Somos pedaços de algo maior...que se atraem inevitavelmente, em reconhecimento, em comunhão.
Mas, enquanto humanos,  resta-nos a inevitabilidade de percorrer o caminho das nossas pequenas vidas, presos a um mundo material, onde apenas por raros e fugazes momentos nos é dado ver noutras dimensões.
Deixa fluir... Deixa que a tua Alma abrace a minha Alma....Deixa que vibrem em comunhão... 
Um dia, num lugar onde não existe tempo, nem espaço, nem dor, nem fracasso, nem desilusão.... Um dia, daremos o grande salto para a nossa verdadeira e real dimensão....
Aí deixaremos de ser pedaços e correremos vertiginosamente de regresso ao início.... Voltaremos a ser Alma Mãe.

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