British exit

Há pouco mais de dois anos, ajudei o meu filho a fazer as malas para ir trabalhar para o Reino Unido. 
O meu coração estava pesado. Ele ia para longe, sem me ter lá para o ajudar e proteger. 
Deixava de haver o nós.... Ele  estaria lá e nós aqui.... Nada voltaria a ser o mesmo.
Não chorei, nem uma lágrima. À minha maneira, pragmática, aceitei que os filhos têm asas próprias e podem voar, metafórica e literalmente.
No aeroporto, sorri, ri, brinquei, fiz as últimas recomendações (coisas de mãe) e dei-lhe um abraço, com a promessa de que no fim-de-semana seguinte o iria visitar, para o ajudar a instalar e, acima de tudo, para ver, com os meus olhos, o sítio em que a partir de então o iria "visualizar".
É mais fácil aceitar a distância se conhecermos os locais.
Com o tempo, habituamo-nos à distância e a viver com a saudade. A internet e os telemóveis ajudam-nos a mantermo-nos próximos.
Hoje, acordámos com o resultado do referendo no Reino Unido. Ganhou o "S" de saída. O Reino Unido vai deixar de integrar a UE. As negociações do "Brexit" poderão levar entre 2 a 10 anos.
As Bolsas, essas "coisas" imateriais e quase incompreensíveis que nos governam e dizem se somos ricos ou pobres, caíram, mais ou menos, vertiginosamente,  um pouco por todo Mundo.
O Prime Minister anunciou que não tem condições para continuar a governar e apresentou a sua demissão. Em 2013, David Cameron abriu a caixa de Pandora ao falar em referendo. Hoje, já não lhe é possível fechá-la. Tudo irá ser o que terá de ser.
O meu coração está pesado. Fiquei triste e apreensiva com o futuro da Europa, do Reino Unido de Portugal, de nós todos e do meu filho.
Deixa de haver nós... Eles estarão lá e nós aqui.
Mas, o Reino Unido sempre teve o Canal da Mancha a separá-lo da Europa e manteve a Libra que, igualmente, o separava da UE.
A sua insularidade caracteriza-o, bem como aos seus cidadãos e à sua forma de estar na vida, politica, económica, religiosa ou socialmente.
Portugal e o Reino Unido sempre foram família, somos assim como que primos. A mais velha Aliança da Europa é a nossa, Aliança/Tratado Anglo-Português, de 1373, - Estabeleceu um tratado de "perpétua amizade, sindicato [e] aliança" entre as duas nações marítimas. É o mais antigo tratado ativo no mundo. - As famílias reais, portuguesa e inglesa, são "muitas vezes" primas entre si.
Nada é imutável. A mudança faz parte da vida das pessoas, dos povos, dos países.
Mesmo triste, acredito que se encontrarão novas soluções, quiçá, melhores do que as atuais.
Malgrado os arautos da desgraça que apostam nas terríveis consequências desta saída, a Europa é, e será sempre, como uma grande família e, como qualquer grande família, tem os seus problemas, as suas cisões, os seus voos, mas tem e terá sempre uma "força" maior que a une.
Afinal, o que nos separa do Reino Unido é apenas um canal. Tal como aquilo que me separa do meu filho são apenas 2.000Km. Mas é bem mais forte, mais real e mais poderosa a "força" que nos une.

Tratado de Windsor - assinado em Maio de 1386 com o sentido de renovar a Aliança Anglo-Portuguesa estabelecida pelos dois países em 1373.

P.S. Após a publicação deste post, dei nova volta pelos media e pelos diversos comentários nas redes sociais.
Fiquei perplexa. Por mais que me entristeça o facto de o Reino Unido ter escolhido sair da UE, por mais que anteveja que desse facto possam resultar novos e maiores problemas tanto para a UE, como para os países que a integram, como, ainda, para o próprio Reino Unido, não estava à espera do feedback que encontrei relativamente a este acontecimento.
C'os diabos, já reparam que aqueles que agora mais se insurgem contra os resultados do Referendo, são exatamente os mesmos que discordavam da nossa integração na UE e os mesmos que subscrevem o regresso ao Escudo?
Há comentários de todos os géneros, incluindo aqueles que afirmam que os políticos, neste contexto específico, não respeitam a classe trabalhadora.
Bem, votaram 72,16% dos eleitores, 48% dos quais votou pela permanência e 52% votou pela saída. Os restantes 27,84% não quiseram votar ou porque não tinham opinião, ou porque não lhes apeteceu, ou porque lhes é indiferente, logo, passaram a sua responsabilidade e direito aos restantes.
Ora, os 52% que votaram pela saída não são trabalhadores? Bem, se não forem, então, o Reino Unido é infinitamente mais rico do que aquilo que eu pensava....
Reparem que quem mais se insurge contra este resultado são aqueles que dizem ser os "verdadeiros" defensores do povo e da sua liberdade. Mas, afinal, o princípio da liberdade e da democracia não é exatamente, na sua forma mais elementar, a de poder escolher o futuro do seu país, através do voto?
Ah, pois, já me tenho dado conta que isto das percentagens é uma ciência "muito complexa". Quando se diz que apenas 8% dos portugueses foram lesados com o pós-25 de Abril, isso não tem importância, porque o que interessa é a maioria. Enfim, são danos colaterais.
Mas quando se fala no número de vítimas,  mortos ou outros, de Hiroxima e Nagasaki, os quais certamente não atingiram, nem de perto, os 8% dos envolvidos na guerra, isso já é relevante. Estes já não são danos colaterais?
Estranho, muito estranho. As pessoas não são números, não são percentagens, nem são danos colaterais. São pessoas. 
Viva a incoerência.
Mas, num Referendo ou numa Eleição há que  respeitar a vontade da maioria, por uma questão de sensatez e por uma questão de democracia, mesmo quando o resultado não nos agrada. O que não podemos ou, pelo menos, não devemos é manipular, usar ou interpretar os números conforme nos dá jeito ou nos é mais favorável.
A coerência nas nossas palavras e atos é boa e bonita, bem, pelo menos, é para mim e era para aqueles que me educaram.

Comentários

  1. Bom dia!
    Fiquei sabendo aqui, ainda não assisti às notícisas hoje. Pensei que eles iam continuar... mas quem sabe, será melhor assim?

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