Que forças e poderes movem os homens?

Só esta semana, para além de todas as notícias tristes, calamidades e barbáries que fazem parte do nosso quotidiano, fiquei indignada com duas decisões, ações, que, em última análise, são da responsabilidade e competência dos governo português.

A Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital do Espírito Santo, de Évora, a única existente no Alentejo, poderá vir a ser desativada, caso a proposta da Rede de Referênciação Materno-Infantil (sistema do Serviço Nacional de Saúde para a regulação das relações de complememtaridade e de apoio técnico entre todas as instituições hospitalares e entre estas e os centros de saúde, de modo a garantir o acesso de todos os doentes aos serviços e unidades prestadoras de cuidados de saúde, sustentado num sistema integrado de informação interinstitucional) vá avante.
O Alentejo é a maior Região do país, ocupando uma área de 31 551,2 km² (33% do continente) e conta com 760 098 habitantes (censos 2011), (7,6% do Continente, 7,4% de Portugal).
A desproporção entre a área e número de habitantes não pode deixar de chamar à atenção. Na verdade, o Alentejo debata-se com vários tipos de problemas, desde a desertificação, despovoamento e envelhecimento da população, à fuga dos jovens para a capital, mas acima de tudo, o  maior problema do Alentejo é ter sido continuada e persistentemente, aos longo de décadas, esquecido e menorizado pelos governantes e políticos.
No entanto, esta região gera nada mais, nada menos que 0,7% do PIB português, só através da produção e exportação de cortiça e representa 23% da floresta nacional.
A agricultura e a pecuária são, igualmente, os setores em que o Alentejo mais aposta, sendo, até pela grande área que ocupam, bastante importantes para o país. 
Infelizmente, a gente das cidades parece não ter noção de que os supermercados não lhes venderão produtos alimentares se não houver agricultura.
A situação é de tal forma caricata que, outro dia, um familiar meu foi a um médico especialista, em Lisboa, o qual lhe perguntou qual era a sua atividade profissional. Naturalmente, o meu familiar respondeu que era agricultor. E este, o médico, com ar de espanto, perguntou-lhe -  Mas, ainda há agricultura? (Escuso-me a comentar esta observação, em forma de pergunta.)
O investimento na indústria é fraco ou quase nulo, com exceção do Litoral Alentejano, pois o poder central nunca fez uma real aposta no setor. 

Relativamente ao investimento do poder central, destaco a Barragem do Alqueva, no combate à desertificação, no investimento no regadio ou na produção de energia elétrica, a qual, obviamente, também serve Lisboa
Ainda assim, para muitos, o Alentejo continua  ser identificado como uma espécie de bilhete postal, com a calma das suas loiras planícies ou verdejantes prados, onde pastam vagarosamente os grandes rebanhos de ovelhas, protegendo-se preguiçosamente, à sombra dos chaparros, do calor abrasador.
Alguns jovens fogem do Alentejo, quiçá por terem sonhos de grandeza, mas, muitos partem apenas porque não têm condições para sobreviver ou exercer uma atividade profissional condignamente.
Os que restam, afinal, parece que é para serem expulsos, uma vez que até o pouco investimento, neste caso ao nível da saúde e da proteção das condições de vida e bem-estar das famílias mais jovens, também lhes irá ser usurpado.



Não contentes com este desinvestimento e, por motivos relacionados com entradas de capital para o Estado, bem pequenas por sinal, 5.000,00€ mensais, e outros que não conhecemos, vai ser entregue a particulares, por um período, no mínimo, de  50 anos, um dos mais emblemáticos, históricos e extraordinários Monumentos Nacionais, o qual foi considerado Património da Humanidade, imaginem para quê - Ora, nem mais, para servir de hotel.
Poderão, alguns objetar - Antes um hotel que deixarem-no cair. Pois, de facto, isso faria sentido se estivéssemos a falar de um qualquer, dos muitos, palacetes que existem a cair aos bocados por esse Portugal fora. 
Acontece que o Mosteiro de Alcobaça é demasiadamente importante para os portugueses, para Portugal e para o Mundo, para ser deixado ao abandono, ou para ser transformado num hotel, ou qualquer outra coisa que não seja a manutenção do monumento em si mesmo.
Dir-me-ão que é mais importante a saúde e bem-estar dos bebés do que se o Mosteiro é convertido num hotel, num hospital ou numa casa de passe.
Respondo eu - Sim as pessoas são o mais importante, mas há certo tipo de monumentos que atravessam o tempo, a história, os séculos e as gerações. Assim, preservá-los é, também e afinal, algo que devemos fazer a bem das pessoas, de nós e de todos os que irão cá viver no futuro, e, também, do país, do mundo e da história da humanidade.
Dizem, relativamente a este assunto, que houve um concurso público. Acontece que o povo, aquele povo que tanto é falado em altura de eleições e em prol de quem até parece que vão fazer alguma coisa de importante, esse povo, esse mesmo, não sabia nada disto e só veio a tomar conhecimento do assunto depois do negócio fechado.
Diz que veio no Diário da República, pois, pergunto eu - E alguém conhece alguém que tenha por hábito ler, de fio a pavio, a I e II Séries do Diário da República, todos os dias, com a sua letra miudinha e as suas incontáveis páginas?

Inaceitável...



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