Ninhos de Vespas

Em 2 de agosto de 1990 teve início a chamada Guerra do Golfo, faltavam escassos dias para eu fazer 30 anos. Por algum tempo, tive dificuldade em aceitar que aquela guerra ia mesmo acontecer. 
"Vai começar a 3º Guerra Mundial", eram as palavras que ressoavam continuamente na minha cabeça. Não sabia por que razão esse pensamento não me largava, mas achava inconcebível que se fosse dar início a uma nova guerra, depois de já ter havido duas guerras mundiais, naquele século, para além de muitas outras de menor envergadura, mas que resultaram igualmente em grande número de mortos e estropiados, tais como, a do Vietname ou da Coreia.
Acreditava, então, e ainda, hoje, acredito que, mau grado todos erros, más decisões, ambição desenfreada, maldade e corrupção, o Ocidente evolui muito mais do que o Oriente, em diversos aspetos, incluindo no que se refere aos valores sociais e humanos e na desmistificação de mitos e dogmas, pelo que aquela guerra, cujo motivo de fundo era, acima de tudo, o ouro negro, ou petróleo,  e todo o poder que a ele se encontra associado, ainda me parecia mais inverosímil, particularmente porque era apoiada por grande parte dos governos do Mundo Ocidental.
As inevitáveis represálias, de uma guerra que o Iraque nunca poderia ter vencido e que o Mundo Islâmico nunca poderia aceitar, levaram algum tempo a fazer-se sentir, mas a 11 de setembro de 2001, os atentados suicidas nos EUA vieram demonstrar que nada fora esquecido, nem deixado ao acaso. A vingança estava ali, cruel, inesperada, alucinante, pacientemente pensada. 
Osama bin Laden foi o rosto visível de algo bem maior do que ele, servindo vários interesses, desde os do Islão, aos do Islão radical, passando por outros menos evidentes que continuam a manter-se na obscuridade. 
Os EUA não tardaram a vingar as suas 2 977 vítimas, pelo caminho aproveitaram para saldar outro tipo de contas, tendo tido, para o efeito, o apoio de grande parte da Europa.
Impotentes e incrédulos, em 2003, assistimos ao início de uma nova guerra, a Guerra do Iraque. 
A realidade islâmica era algo que eu apenas conhecia de forma básica e elementar, nos anos 90, mas a minha constante necessidade de compreender o mundo que me rodeia, aliado às sucessivas de guerras e conflitos e, também, à emergência do mundo virtual, impeliram-me e permitiram-me entrar nesse mundo simultaneamente fascinante e estranho. 
Os pilares dos Islão, o cumprimento estrito das regras e normas rígidas, tais como o Ramadão ou as orações diárias, a fé inabalável e acrítica, a estagnação da mentalidade, parada no tempo, de há 2000 anos, as profundas, enraizadas e cruéis desigualdades de género, contrastantes com a forma despreconceituosa como é encarada a sexualidade e prazer sexual da mulher, a enorme unidade familiar, o fundamentalismo e o desapego à vida que entregam a Alá e por Alá, na firme convicção de que por ele serão recebidos com honrarias no céu, tudo me levava a concluir que nunca os conseguiríamos vencer, verdadeiramente, em qualquer conflito, ou alcançar uma paz sólida e duradoura, se não conseguíssemos compreender e interiorizar a sua forma de sentir e pensar.
Recordo-me que, na altura, disse que esta guerra era um enorme disparate, uma falta de inteligência e manifestava ou um total desconhecimento da mentalidade dos islâmicos ou intenções e objetivos maquiavélicos, difíceis de compreender.


Será que ainda é possível contabilizar o número de vítimas que estas guerras fizeram?
Não é possível principalmente porque a Guerra do Golfo ainda não terminou, tudo o resto são apenas novas batalhas dessa guerra inicial que é efetivamente a Terceira Guerra Mundial.
Esta é uma guerra com características muito específicas que serve vários interesses e em que, na maior parte das vezes, os combates ou batalhas nada têm de convencional.
Para se perceber os contornos desta guerra é necessário compreender a mentalidade islâmica e os interesses financeiros dos diferentes países e grupos financeiros, à escala mundial.
Nunca vivemos nada semelhante, pelo que o seu desfecho final resume-se a uma grande incógnita.
Para além dos mortos, feridos, estropiados e traumatizados das Batalhas do Golfo e do Iraque, neste confronto, que já se arrasta desde 1990, existem muitas outras vítimas a lamentar, não só as dos atentados terroristas dos EUA, Espanha, Rússia, Inglaterra e, mais recentemente, França, tendo ocorrido, ontem, o último, em Nice, quando França comemorava o seu Dia da Bastilha, como, ainda, todos os que têm sido mortos e/ou feitos reféns do ISIS, e, obviamente, todos os refugiados do mundo islâmico que são "empurrados" dos seus países, servindo de carne para canhão e com "estatuto de danos colaterais", os quais, mesmo sem o saberem, são a guarda avançada, ou primeira unidade tática, da maior invasão da Europa de que há memória.
Desenganem-se os senhores da guerra, do Ocidente e do Oriente, pois, mesmo eles não sairão incólumes, nem escaparão às, mais do que provavelmente, terríveis consequências desta guerra que fabricaram e continuam a alimentar. Poderá levar mais tempo, mas elas chegarão até eles, pelo que eles serão os seus próprios carrascos.
Nesta guerra todos os ninhos de vespas foram abanados e acirrados, mesmo aqueles que se encontravam adormecidos ou isolados nos locais mais recônditos
É urgente que o Mundo se dê conta de que todos somos mortais e de que a vida nos foi dada para que a pudéssemos viver da melhor forma que nos fosse possível, mas, neste momento, a ganância, a sede pelo poder, a corrupção, o radicalismo e o fundamentalismo religioso estão a conduzir-nos para a Guerra Total, sem fim à vista e sem vencidos, nem vencedores. 
Todos seremos apenas vítimas uns dos outros e de nós próprios, se não terminarmos a tempo este que é o maior conflito armado da humanidade.

Há uma fórmula infalível para pôr termo a qualquer guerra ou conflito e ela é conseguida através de consensos e boa-vontade, os quais promovem a união de toda a humanidade, no respeito pelas diferenças e na contenção do radicalismo e do fundamentalismo.
Mas, estaremos nós preparados para dar esse grande salto na evolução do Homem? Ou, pelo contrário, entrámos na senda da autodestruição ou da sujeição aos psicopatas deste mundo? Perderemos, assim, a eterna luta entre o Bem e o Mal?

Comentários

  1. Quando em 1990 os EUA pintaram o Saddam e o Iraque como os maus a abater, percebi imediatamente que havia uma grande mentira por detrás de tudo o que nos diziam. A verdade, era que existia uma grave crise económica nos EUA e estava prestes a rebentar. Bush precisava de fazer algo para salvar os EUA.
    Hoje, sabemos que foi uma grande mentira e Tony Blair foi o primeiro a admitir que foi enganado, pois os ingleses não deixaram passar tamanha mentira.
    Recentemente, voltámos a ver o mesmo filme, Sarkozy, reencarnado em cowboy, comandou as hostilidades a Kadhafi. Mais uma vez construíram o CV do mau a abater.
    Resultado disto tudo? Foi no Iraque que começou o terrorismo islamita. A Líbia está hoje em guerra civil, há fome e miséria por todo o lado, e nós, os defensores da liberdade e da evolução fazemos que nada sabemos.
    Não contentes com tudo isto, a EU ainda se foi meter nos assuntos da Ucrânia (habitada por milhões de russos). Derrubaram um presidente democraticamente eleito para imporem a linda democracia ocidental! ???? Resultado? Os russos a jogarem em casa, brincaram como quiseram, e aproveitaram para anexar a Crimeia que é habitada por russos há séculos.
    Na Síria, repetem o mesmo filme. O Bachar Al Assad é o mau a abater, os franciús até já tinham umas imagens horríveis, parecidas com as dos judeus alemães em Auschvitz, onde apareciam uns esqueletos para mostrarem ao mundo os crimes de Al Assad. O CV é sempre construído à medida para a respectiva manipulação da opinião pública, mostrando imagens na TV parece tudo mais verdadeiro, mas não é!
    Não seria muito melhor, os Dirigentes europeus dizerem que querem derrubar o Al Assad porque ele não deixou passar um gasoduto que vinha do Qatar para alimentar em gás a Europa?
    Falando de guerra e de paz, como se pode falar em paz quando nós, os ocidentais, metemos os nossos interesses e o nosso conforto em conflito permanente com o dos outros povos?
    Depois vêm contar-nos histórias de criancinhas que os maus querem invadir-nos etc. e tal.

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