Big Brother no Admirável Mundo Novo


Em 1932, Aldous Huxley publicou o seu romance distópico “Admirável Mundo Novo" (“Brave New World” na versão original em língua inglesa). 
Este descreve um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. (resenha
Em 1949, George Orwell (pseudónimo de Eric Arthur Blair) publicou o seu romance distópico “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” (“Nineteen Eighty-Four” na versão original em língua inglesa). (resenha) - (resumo e opinião
Este retrata o quotidiano de um regime político totalitário e repressivo que se desenrola no ano homónimo. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela.

O romance tornou-se famoso por retratar a generalizada fiscalização e controlo de um governo na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. 

Desde a sua publicação, muitos dos termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua", entraram no vernáculo popular. O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a magnum opus de Orwell.



Seriam este dois autores loucos visionários? Ou, pelo contrário, seriam, antes, homens que estavam, à semelhança de Júlio Verne, à frente dos homens do seu tempo, tendo uma capacidade invulgar e brilhante para, de uma forma extraordinariamente perspicaz, conseguir ter bem mais do que um vislumbre do que iriam ser as sociedades do futuro?
A invasão da privacidade, a inversão de valores, a ausência de liberdade, o controlo absoluto da humanidade por uma minoria de outros seres humanos. perigosamente poderosos, maioritariamente anónimos, absolutamente intocáveis e pretensamente mais sábios e inteligentes do que os restantes. 
Esta é a visão ou antevisão de uma sociedade profundamente assustadora, em que quase toda a humanidade deixa de ser constituída por seres humanos inteligentes, sensíveis, criativos, pensadores, para passar a ser o habitat de uma espécie de autómatos ou robots  sofisticados.
O Admirável Mundo Novo e 1984 foram os romances mais perturbadores, "incómodos" e aterrorizadores que li em toda a minha vida. 
Estes, sim, são verdadeiros livros de terror, que também deram origem a filmes igualmente terríficos, pois não se baseiam em factos improváveis e seres inverosímeis, mas, sim, na projeção de uma realidade plausível e por isso mesmo assustadora.
Mas, será que não vivemos já nesse tipo de sociedade, ou caminhamos para ela a grande velocidade?
Através de câmaras, instaladas nas ruas, empresas, serviços públicos, aeroportos, estações de comboio ou metropolitano, caixas multibanco e muitos outros locais, somos filmados, diariamente, executando as mais diversas atividades, sem que tenhamos, realmente, consciência disso.
A grande maioria dos carros novos já têm instalado um sistema de GPS que permite que sejamos localizados,  pelas autoridades, em quase qualquer parte do mundo.
Os movimentos dos nossos cartões multibanco ou de crédito relatam com detalhe, não só os pagamentos que efetuámos, como a hora e local em que o fizemos.
Os nossos cartões de cidadão contêm uma enorme quantidade de informação acerca de nós, à qual muitos podem aceder através de equipamento apropriado.
Os nossos telemóveis, computadores ou tablets permitem que sejamos localizados através dos seus IP, com elevado grau de precisão e as nossas conversas e mensagens, faladas ou escritas, ficam guardadas, por tempo indeterminado, em enormes servidores, ficando portanto acessíveis a todos aqueles a quem for atribuída autoridade para tal.
Não é possível eliminar, de forma definitiva e eficaz, nada do que escrevemos, publicamos ou partilhamos na internet. Tudo o que entra na net é, por definição, eterno.
Na verdade, estas novas tecnologias tanto podem constituir-se como um elemento fundamental para a nossa proteção, sobrevivência e bem-estar, como podem servir para nos dominar, controlar, restringir a liberdade ou descaracterizar-nos enquanto seres individuais, racionais, pensantes e criativos.
Poderemos argumentar que todas estas tecnologias nos dão uma muito melhor qualidade de vida, permitindo-nos comunicar à distância, trabalhar, estudar, procurar informação, entre muitas outras coisas, pelo que o lado negativo das mesmas é de somenos importância. 
Se aqueles que detêm o poder, de entre os vários tipos de poder existentes nas sociedades, fossem todos, ou, pelo menos, a larga maioria, pessoas idóneas, honestas, justas e humanistas, não fazendo, portanto um uso abusivo e nocivo da informação a que tivessem acesso, então poderíamos sentir-nos confiantes de que não viríamos   a ser subjugados. Mas, será que são?
Estejamos alerta e atentos, não olhemos para o lado, não nos fiquemos pelos ganhos a curto prazo. A linha do nosso horizonte compreende, para além do curto, o médio e o longo prazo. 
Não percamos, então, o controlo das nossas vidas, nem deixemos que mãos alheias nos manipulem, como se fossemos pequenas marionetas, inanimadas, sem vontade própria, sem capacidade de reflexão, enfim, sem vida. 

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