Novas do Ocidente

Trump foi eleito Presidente dos EUA,  as sondagens colocaram sempre a candidatura de Marie Le Pen, à presidência de França, numa posição vantajosa, o Brexit aconteceu, contra todas as expetativas da Europa, e, por cá, a Geringonça, a improvável cooperação entre o partido socialista, comunista e o bloco de esquerda, conseguiu ultrapassar, quase incólume, o primeiro ano de governação e não dá sinais de enfraquecimento. 
Estes e outros factos deixaram o mundo entre o perplexo e o incrédulo. 

Mas, será que estes acontecimentos são assim tão inexplicáveis? 
Sem recurso a brilhantismos histórico-filosóficos, considero que as democracias, particularmente as repúblicas, se esqueceram de que os eleitores são pessoas. 
E as pessoas, no geral, de forma mais ou menos consciente, valorizam os fatores subjetivos e imateriais, tais como identidade, união e espírito de comunidade, os quais são, simultaneamente, o garante da sua individualidade e do seu sentimento/necessidade de pertença. 
O Capitalismo da era pós-industrial perdeu os valores morais e sociais e trocou-os por direitos (infinitos) dos cidadãos, não das pessoas,  e pelo Capital pelo Capital, onde vale tudo, incluindo tirar olhos. 
O resultado está à vista, uns fecharam-se no seu "grupo" (leia-se país), os outros radicalizaram-se. formando dois grupos, dentro do seu "grupo".
Manifestamente, grande parte das pessoas deixaram de acreditar na política e nos políticos, particularmente naqueles que, ao longo de várias décadas, governaram os países ao centro, direita ou esquerda.
Primeiro foi-lhes vendida a ideia, do "eu tenho direito".
Depois, chegou a maior crise de que há memória, os ataques terrorista  um pouco por toda a parte, a "invasão" do Ocidente pelos refugiados e imigrantes, vindos do Oriente ou de África.
Enquanto isso, os muito ricos enriquecem cada vez mais, o mundo é governado por grandes grupos económicos e, no geral, de políticos a banqueiros, passando pelos empresários, a corrupção está na ordem do dia.
Convenhamos, os humanos são só humanos, repletos de defeitos e virtudes, os quais, perante  condições adversas, tanto podem revelar o seu melhor, como o seu pior.
Para que o mundo avance, de uma forma mais ou menos harmonizada, as pessoas têm que acreditar que fazem parte de algo, importante e com significado.
Todas as guerras, ao longo dos séculos, nos dizem que os humanos podem até dar, generosamente, a sua vida pelo seu país, pela sua comunidade, pelo seu grupo, não porque a tal foram obrigados, mas porque acreditam em algo que os une ou torna importantes numa comunidade. 
Aquilo que os une é imaterial, é um sentimento de pertença, de proteção, de luta por um ideal.
Perdeu-se a paixão, perderam-se os ideais. Periclitantes, os valores humanitários, sociais, culturais, morais, espirituais, tentam, com grande dificuldade, sobreviver às lutas pelo poder e pelo dinheiro.
Porque sobrevivem melhor as monarquias? Porque têm um elemento ou símbolo agregador que, de forma imaterial, os protege e lhes garante a individualidade.
Porque se afastou a Grã-Bretanha? Porque são uma ilha que ,desde há muito, aprendeu a sobreviver sozinha, sem se render aos devaneios de outros povos.
Porque ganhou Trump? Porque o EUA são um país gigante, uma potência económica e politica,  onde impera o amor pelo país e pela american way of life. Pelo que não estão dispostos, nem precisam de se sujeitar às indecisões e inseguranças da Europa.
Ah, e a França eternamente refém da Liberté, Égalité, Fraternité, vive entre a consciência pesada e o orgulho e rebeldia do seu coração gaulês.
Porque sobrevive a Geringonça? Porque, ainda que não faça nada em prol do desenvolvimento económico do país, adotou a esperança, o sorriso e as palmadinhas nas costas como forma de comunicar-se com o "povo".
 A América do Sul sobrevive entre a corrupção e a repressão, os líderes de mão-de-ferro e as guerrilhas, a pobreza e o acesso à educação. 
Mas, ali vivem-se também furiosas paixões, talvez  pela vibrante herança genética de índios e espanhóis, este últimos fortemente marcados pelo sangue árabe que lhes corre nas veias, em virtude dos séculos de ocupação.
O Brasil é o único onde impera o sangue português, carregado de brandos costumes, misturado com o sangue índio e com dos todos outros povos, oriundos de todos os cantos da Europa e de África. Talvez essa seja a razão da sua tão peculiar singularidade.
A Europa, unida à força, apenas e quase só em função do capital, estrebucha, estremece, entristece, sem paixão, sem valores, sem identidade. 
Deprimida, exausta, quase incapaz de se agarrar à sua história heróica, à força, determinação e inteligência das suas gentes, as quais foram, sem qualquer sombra da dúvida,os motores, os propulsores e os executantes das maiores descobertas, dos maiores feitos, da evolução da ciência e da tecnologia e, porque não dizê-lo, da evolução da  humanidade.
Esqueceram-se as pessoas. Esqueceram-se os valores imateriais da humanidade, perdeu-se a garra, a força e a unidade.




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