Hoje, pediram-me para rezar

A morte, selvagem e fria,
Levou, sem dó, nem compaixão,
O Filho, 
Deixando uma Mãe vazia.
Hoje, pediram-me para rezar...
Pelo preencher do vazio 
Pelo filho, para que encontre o caminho,
Pela fé que partiu.
Silêncio,
É única palavra de consolo que me ocorre.
Pelo respeito pela dor maior.
Silêncio pela morte prematura e contra-natura.
Por mais que a esperança do reencontro,
Num lugar remoto e imaterial,
Seja a luz que  permite viver
Quando parte da alma é arrancada.
Hoje, pediram-me para rezar...
Mas da morte há que fazer o luto,
Há que sofrer a dor,
Da ausência, do sorriso, da palavra,
Do abraço que jamais será dado.
Hoje, pediram-me para rezar.
No espanto da morte inesperada e prematura,
Não é fácil encontrar o caminho,
Pois a luz encandeia os olhos do espírito, confuso,
Na partida inesperada.
Hoje, pediram-me para rezar,
Mas as palavras morreram-me na voz.
Impotente para parar o tempo,
Viajar ao passado,
Fazer o milagre de transformar
A dura realidade, mum sonho mau,
De que apenas se acorda angustiado.
Hoje, pediram-me para rezar,
Mas, eu sei, há que esperar.
Para que o tempo cicatrize a ferida.
Para que a luz, ofuscante, 
Se transforme 
Em cálida, reconfortante e maravilhosa presença
Que garante o estar seguro e não sozinho
E que ali é a morada da felicidade.
Hoje, pediram-me para rezar,
Alegando que tenho Fé,
Mas eu apenas fui capaz
De, atordoada, deixar falar o coração.

In memoriam
Filipe e seu amigo Ricardo



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