MAESTROS E MAESTRINAS

Maestro - Maestrina
Foto de Perdita Petzl

A regência musical é a atividade através da qual se pode coordenar, dirigir e liderar as atividades musicais realizadas em grupo, para que apresentem coesão e coerência em sua manifestação. 
Há grupos que possuem um(a) regente que se posiciona à frente de todos e comunicando referenciais para que os integrantes do grupo possam realizar uma execução musical com unidade interpretativa. E há outros grupos que não possuem um(a) regente destacado. Mas, independente disso, qualquer que seja a situação, todo conjunto musical precisa de um tipo de direção, de uma liderança. 
A regência é uma atividade que envolve diversos aspetos: musicais, gestuais, vocais, psicopedagógico e psicológicas. O(a) regente deve representar e promover a unidade da expressão artístico-musical de um grupo de pessoas, mesmo que elas tenham habilidades artísticas heterogéneas. Para isso, precisa preparar-se em todos os aspetos citados, principalmente na sua formação musical: bom domínio da partitura, perceção sonora apurada para poder distinguir aquilo que estará conduzindo, conhecimento e compreensão de estilos, géneros, autores, épocas, questões de contraponto, harmonia e análise musical, etc. 
Para o exercício da regência existem gestos convencionais que precisam ser dominados. Eles foram estabelecidos ao longo da história da atividade da regência e permitem um tipo específico de comunicação compreensível por todos que participam do grupo. 
Existem gestos pessoais que caracterizam o estilo de cada regente, mas algumas convenções, até internacionais, são importantes para que a comunicação se estabeleça de forma homogénea entre grupos distintos. 
O maestro ou maestrina comanda a orquestra usando a batuta porque cada movimento que ele faz representa um som. (Fonte: Wikipédia)

Há cerca de 20 anos, trabalhava no Gabinete de Comunicação e Imagem da AIP, onde fazer o acompanhamento de Congressos e Conferências, realizados no Centro de Congressos desta instituição, era uma das minhas funções.
Guardo na memória uma dessas conferências, na qual o principal orador era o professor Fernando Carvalho Rodrigues, conhecido do grande público como o "pai" do primeiro satélite português.
O seu discurso era envolvente, bem-disposto e despretensioso, o que transformou o acompanhamento da Conferência, não numa obrigação cansativa, de passar horas em pé, no fundo da sala, mas, antes, num momento interessante e de aprendizagem.
A certa altura, o professor comparou o funcionamento de um equipamento, uma empresa ou até um país à atuação de uma orquestra, referindo que as peças musicais ou sinfonias, por esta interpretadas, só  seriam agradáveis e de qualidade se todos os músicos estivessem atentos e cumprissem as instruções do maestro ou maestrina, pois, mesmo que a orquestra fosse composta por cem músicos tocando, de forma irrepreensível, diferentes instrumentos, bastava que, por exemplo, um dos violinos entrasse fora de tempo ou desafinasse para que toda a atuação ficasse comprometida.
A imagem do violino a desafinar é perfeita para demonstrar quão essencial é que todos os elementos, quer sejam pessoas, peças de um equipamento, empresas ou instituições, funcionem de forma harmoniosa, cooperante e atempada, para um objetivo comum. Pois, como todos nós sabemos, este é um instrumento que, quando mal tocado, se torna extremamente desagradável, mesmo insuportável, assemelhando-se os seus gemidos aos miados dos gatos em janeiro. 
Carvalho Rodrigues era também um dos maiores experts em computadores, nesse tempo em que os computadores pessoais eram ainda uma novidade não acessível a uma grande maioria.  
Em tom de confidência, contou que, muitas vezes, as pessoas lhe perguntavam o que deviam fazer quando os computadores bloqueavam, falhavam ou davam erro. Quase invariavelmente, ele respondia-lhes que nos computadores existia um botão denominado reset, assim, como as causas do erro poderiam ser infinitas, o melhor a fazer era mesmo carregar no dito botão e recomeçar o trabalho a partir daí.
Ao longo de todos estes anos, tenho usado o reset inúmeras vezes, nos computadores e não só. Existem muitas situações nas nossas vidas que, ocasionalmente ou de forma continuada, começam a bloquear, falhar ou dar erro e, em muitos casos, parece não fazer sentido ou ter qualquer utilidade procurarmos a causa, pois, à semelhança dos erros dos computadores, também estas situações podem ter inúmeras causas, quase impossíveis de identificar, pelo que mais vale fazer reset e começar de novo.
Também o exemplo da orquestra tem aplicação na minha vida, em termos familiares, profissionais, sociais ou quaisquer outros, mas é mais difícil de gerir, pois, em muitas situações falta um maestro ou maestrina competentes ou "músicos" brilhantes, competentes ou, no mínimo, cooperantes.
Já na vida pessoal e intima, tento ser uma boa maestrina, confesso que, com frequência, falho, tanto na utilização correta da batuta, como na gestão harmoniosa, cooperante e atempada de todos os elementos, físicos, fisiológicos, emocionais, psicológicos, psíquicos ou sentimentais, pois, muitas vezes, têm a estranha mania de decidirem, todos ou alguns deles, tocar músicas diferentes ou a mesma música mas em diferentes compassos  e, quase sempre, há um violino que tem a mania de desafinar ou entrar fora de tempo.
Ser um bom maestro ou maestrina da nossa orquestra é, na verdade, o maior desafio que a vida nos dá.



Comentários

  1. Um texto muito bom, sem dúvidas!
    Acho que apenas para a morte não há 'reset.'

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