Da Efemeridade da Vida

Um dia, somos crianças e tudo parece fazer sentido. Tudo está no lugar certo.
Todas aquelas pessoas fazem parte da nossa vida e têm o seu próprio lugar.
Depois, depois a vida passa, corre, agita-se.
Cada um vai escolhendo o seu próprio caminho. Uns afastam-se, outros aproximam-se.
Conhecemos novos lugares, novas gentes, fazemos novos amigos.
Mas, no nosso mundo ideal, todos, ainda que ausentes ou longe, continuam a estar no seu lugar, até à primeira perda real, que nos apanha sempre desprevenidos.
O nosso pequeno mundo estremece. Tentamos aceitar as partidas com o velho "é a ordem natural da vida"... quando são os mais idosos a partir. Mas a ordem nem sempre  se cumpre, de acordo com as  nossas regras. E o nosso mundo estremece.
Ah, mas somos novos, há tanta coisa para fazer. Um mundo por descobrir. Projetos para criar. Objetivos para cumprir. Paixões para vibrar. Amores para sentir. Caminhos para desbravar. Desafios para vencer...
Sem que nos demos conta, a vida vai-nos levando. 
Vamos tal como um barco flutuando no rio. Umas vezes à deriva, outras com rota definida; Às vezes muito depressa, outras ao sabor do vento; Atravessando pelo meio da tempestade ou crestando ao sol inclemente; Descendo os rápidos, de coração acelerado, em velocidade alucinante ou desfrutando, na acalmia, a serenidade e beleza da paisagem.
Sem nos darmos conta, o tempo passa. A vida acontece. E nós, nós envelhecemos, somos, agora, os mais velhos, ou já restam muito poucos mais velhos do que nós.
Recordamos todos os que fizeram parte da nossa vida e notamos que muita coisa não faz sentido. São os espaços deixados pelos que partiram. São buracos escuros que tentamos encher de memórias.
Então, então somos, agora, o que eram para nós os nossos avós. Os nossos amigos, da nossa idade e mais novos, começam a partir. 
Todo o nosso mundo estremece violentamente. Tudo parece estar fora do lugar.
Sentimos que o nosso barco vagueia sem rumo. Que somos crianças, indefesas, à deriva no grande rio. 
Enchemos os olhos com o magnifico nascer do sol e os nossos corações de criança garantem-nos que tudo está no lugar certo, para lá do lugar do pôr-do sol.

In memoriam

Ana Luísa
&
Lena

13 de janeiro de 2019

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