O DIÁRIO DO SILÊNCIO - Parte I

Vendo o mundo através da cortina... de renda (uma imagem romântica ou doce).
Se tudo correr como o previsto, começo hoje, sim, hoje, que já passam trinta e oito minutos da meia-noite, um tempo de silêncio absoluto, por um número de dias ainda incerto.
O silêncio será apenas meu e não do mundo à minha volta.
De novo, se tudo correr como o previsto, a partir de uma hora ainda não definida, mas sempre após as quatro horas da tarde, deixarei de poder falar.
O motivo? Bem, o motivo é um polipo gigante que vai ser retirado da minha corda vocal direita. 
Só após a cirurgia se saberá quantos dias terei que estar sem falar. No mínimo, serão sempre quatro, mas a certeza só se terá após a cirurgia. Isto assumindo que tudo irá correr bem.
O silêncio obriga ou, pelo menos, contribui para acalmar a mente e, confesso, a minha está muito cansada e stressada.
Assim, este polipo pode bem ser uma "partida" do destino ou, quem sabe, do meu cérebro para me obrigar a "parar".
Para meditar ou rezar é preciso silenciar a mente.
Para analisar e refletir é necessário acalmar as emoções.
O silêncio, forçado ou autoimposto, é, portanto, algo que me vai obrigar a refletir, mas também a acalmar a mente e as emoções.
Tenho medo de me esquecer de que não posso falar.
Por falar em medo, tenho medo de anestesias, cirurgias, erros, falhas e negligências médicas... Tenho medo. 
Eu disse medo? Não, eu tenho é pavor, mas ninguém diria, pois sou altamente controlada, por mim mesma.
Fica a "promessa", se tudo correr como o previsto, isto é, bem, durante estes dias, farei o Diário do Silêncio, onde vos darei conta das minhas sensações e impressões.
Só então saberei se o meu silêncio vocal, forçado, serviu para acalmar a minha mente, contribuiu para analisar acontecimentos ou informações sobre novas ou diferentes perspetivas ou me forçou a fazer uma autoreflexão intensa que me obrigue a crescer, enquanto pessoa.
Um retiro, sem palavras....Sempre disponível para aprender...
Sem palavras, sem cigarros e com alimentação condicionada...
Estou curiosa, ainda que tenha medo, apaixonam-me sempre os novos desafios e experiências.
Imaginem, não posso chamar ninguém, pedir ajuda, gritar se estiver irritada ou me assustar.
Não posso nem pedir um copo de água ou uma mãozinha.
Enfim, vai ser, no mínimo, estranho....


Informação - Os pólipos das cordas vocais geralmente são resultantes de uma lesão aguda (como de um grito) e ocorrem habitualmente apenas em uma das cordas vocais. Os pólipos podem ter várias outras causas, inclusive refluxo gastroesofágico ou inalação crónica de irritantes (como fumaça industrial ou fumaça de cigarro). Os pólipos tendem a ser maiores e mais salientes do que os nódulos. Os pólipos são comuns entre os adultos.

Comentários

  1. Espero que tudo corra bem. vai dar certo.
    Mas acho que não ter que responder a certas coisas, poder ficar em silêncio e ter um bom motivo para isso, após ouvir algumas coisas, deve ser bastante relaxante.

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    1. Obrigada.
      Poderia ser relaxante, de facto, mas tantas coisas para tratar e não poder falar é ainda mais stressante. Acho que eu só vou "lá" com um marretada na cabeça. Abraço

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  2. Para já, começaste bem. Vamos ver em que dá a tua falta de sonoridade e se o teu cérebro cansado de te aturar resolve falar por ti... Para ele é difícil, está habituado a que tu não lhe dês tréguas. Menina, NÃO GRITES! �� ��

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  3. Nós as duas somos assim... Gostamos de bater uma na outra... e sabemos porquê! Olha, experimenta falar em silêncio 🤫 contigo mesma e vê se chegas a conclusões... 😘 😘 😘

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    1. Já falei tanto sozinha e para dentro que até estou atordoada.
      Agora, a sério. Tem havido alturas em que penso ou escrevo tão intensamente que, por momentos, não tenho bem a certeza se disse alto o que estava a pensar. Mas é mesmo só a intensidade do pensamento. Jinhos

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  4. �� �� �� �� �� ��

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