Imagem do google: Autor desconhecido |
Talvez por característica congénita "agravada" pela educação que recebi e pelo meu elevado sentido do ridículo, associado a um sentido de humor, por vezes, caustico, e a uma grande capacidade de observação e análise de mim própria e do mundo que me rodeia, nunca tive ídolos.
Não ter ídolos não significa não ser capaz de reconhecer ou aplaudir as qualidades ou grandes feitos dos outros mas, antes, compreender que essas qualidades e feitos coexistem com defeitos, limitações ou incapacidades.
Se já por tendência própria não era dada à idolatria, o facto de a vida me ter conduzido, há 41 anos, para um curso, Relações Públicas e Publicidade, que não estava nos meus planos, ainda veio reforçar mais essa característica.
O meu primeiro contacto com a Análise de Conteúdo "destruiu" em mim toda e qualquer capacidade para ter ou seguir ídolos. Através dela desmontamos textos, ideias, conceitos e ficamos apenas com um esqueleto que, qual puzzle, iremos revestir com "músculos" e "carne".
Por algum tempo, tornou-se até um pouco dramático ver um filme ou teatro, ou ler um livro. Involuntariamente, começava a desmontar ou dissecar o que via ou lia, perdendo, assim, aquela capacidade extraordinária para nos deixarmos envolver por uma boa história, quase nos transformando na protagonista da mesma.
Para esse desencanto ou perda de ingenuidade não contribuiu somente a Análise de Conteúdo mas, também, outras disciplinas, como a Publicidade, os Estudos de Mercado e a Psicologia.
Como dizia o meu professor de Estudos de Mercado "A ingenuidade é linda... nas crianças".
Sempre me impressionou, sim, digo bem, impressionou, ver as pessoas gritar, correr como loucas e até puxar os próprios cabelos ou rasgar as roupas quando vão assistir aos concertos dos seus artistas preferidos. Nem consigo perceber o que se sente para ter tais comportamentos.
Mas não é só ao nível da música que as pessoas têm ídolos. Existem ídolos em todas as artes, desporto, política, religiões e espiritualidade e até ao nível do entretenimento ou jornalismo.
Contudo, ainda que alguns destes ídolos tenham genuína qualidade na arte, profissão ou corrente espiritual que praticam, existe uma grande quantidade de ídolos, sem qualquer qualidade ou capacidade especial ou extraordinária, que é fabricada pelos media e, mais recentemente, também pelas redes sociais.
Extraordinariamente, alguns destes ídolos, com ou sem qualidade, passam a ser referências não só na arte ou profissão que desempenham mas, também, como analistas da sociedade e dos outros e, não raro, como referências de uma certa superioridade moral, em que até as suas próprias falhas ou erros são enaltecidos, porque reconhecidos pelos próprios, num misto de orgulho e autopunição pública que os torna "grandes".
Se estas situações fossem apenas ridículas a "coisa" não seria preocupante. Contudo, elas revelam a necessidade de muitos elevarem uns outros à qualidade de seres superiores, a quem colocam num pedestal, aplaudindo e secundado tudo quanto o ídolo diz ou faz, sem qualquer discernimento, capacidade crítica ou ideias próprias, como se por alguma "mágica" este se tivesse elevado à categoria dos deuses. E isso, sim, é deveras preocupante.
Todos os ídolos têm pés de barro mas há alguns ou muitos que são mesmo todos de barro.
Há os ídolos nacionais ou de "trazer por casa", no nosso pequeno mundinho repleto de pirosadas, pedantismo e arrogância e pseudo intelectualidade ou moralidade.
E há os internacionais... o mais recentemente falado "deu à luz" uma "obra de arte fantástica", constituída por uma banana e uma fita adesiva. A primeira foi comida por um visitante esfaimado e posteriormente reposta.
Quando ao valor, a "magnifica obra de arte" foi vendida por 108.000,00€.
A "obra de arte"Imagem de LUSA/RHONA WISE |
O homem que comeu a "obra de arte" Imagem de REUTERS/EVA UZCATEGUI |
É caso para dizer que o mundo dos ídolos anda todo esfomeado.
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