Distraídos com o Covid-19? "Divide et impera"

Nem todas as guerras ou conquistas utilizam armas convencionais mas todas elas se fazem com o imenso suporte do medo.
O medo gera divisões, preconceitos, xenofobias, fobias e mitos. E, certamente, todos conhecem a máxima de Júlio César "Dividir para Reinar".
A este propósito apraz-me relembrar o mítico Adamastor 

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Adamastor é um mítico gigante da mitologia, Sidónio Apolinário[1] cita este gigante pela primeira vez como um dos filhos de Castelo Branco, que se rebelaram contra Zeus e por isso foram fulminados, ficaram dispersos e reduzidos a promontóriosilhas e fraguedos.
Também é citado por Fernando Pessoa no poema O Mostrengo e por Rabelais, em Gargantua e Pantagruel.[2]  
A sua menção mais memorável, no entanto, é feita por Luís de Camões no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus. 
Como ele foi "jogado ao fundo dos mares", desfazia-se em lágrimas, as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico, e revoltava-se sob a forma de uma tempestade ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo das Tormentas, os alegados domínios de Adamastor. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovente, as forças da natureza, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses comandados por Vasco da Gama e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria. 
Os Lusíadas ilustram a superação do povo português sobre o medo de navegar em mares desconhecidos, onde este medo é sintetizado pela figura do gigante. Por haver superado a tempestade e seguido com sucesso o caminho pelo Oceano Índico, Vasco da Gama renomeou o local que hoje é conhecido como Cabo da Boa Esperança 
O Adamastor tem não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do Restelo, como também de dar ênfase ao «mais que humano feito» (feito sobre-humano) referido na proposição. 
Realçando a coragem do Herói, individual ou coletivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios superiores ao poder do Homem, porque renega a sua emoção seguindo a ordem do rei. 
Na continuação do episódio, o narrador mostra-nos como este gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece dessa doença benigna que é o amor.

A sul do Cabo Bojador erguia-se um conjunto de lendas e superstições que a imaginação criara a partir do mundo desconhecido. 

Os marinheiros quatrocentistas não podiam deixar de sentir o mistério que envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas representavam o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele. 

À custa de uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar esses mitos e chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido pela impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa Esperança, lhes abria as portas da Índia. Os mares desse cabo serviram muitas vezes de sepultura a navios carregados de riquezas e de desilusões, como que comprovando as profecias do Adamastor. 

Bocage escreveu um belo soneto relativo a essas profecias:
Adamastor cruel!... De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!
Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.
Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.
Bem te vingaste em nós do afouto Gama!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita fama!
Enquanto andamos distraídos com o Covid-19, que nos invade a casa e a vida, através de todos os mídia, o mundo continua a avançar em rotas tão perigosas, quanto desconhecidas.

Inúmeras empresas abrem falência e/ou despedem trabalhadores aos milhares; 
Inúmeras famílias perdem total ou parcialmente as suas fontes de rendimento;
Inúmeras famílias são divididas ou afastadas. Doentes e velhos morrem na mais profunda solidão e abandono, supostamente, para os/nos defender do vírus;
Festivais, concertos, manifestações, grandes encontros, tudo está adiado por tempo indeterminado. Restam-nos os rostos tapados, sem expressão, e  as redes sociais, onde as fake news proliferam, os heróis do teclado se digladiam ou nascem novos mitos, fobias e xenofobias;
Somos todos observados e controlados por Apps e Algoritmos "inteligentes";
A nossa liberdade individual é-nos retirada, sem que sequer nos debatamos, tão controlados e manipulados pelo medo e por quem o utiliza para nos controlar;
A China, esse colosso de população, essa, já velha, ditadura que tem tratado a maioria dos seus cidadãos, nos últimos 60 anos ou mais, como peões num jogo perverso, onde não têm faltado campos de concentração, trabalho infantil ou, mesmo, emparedamento de casas com as pessoas lá dentro, durante a pandemia, procura, agora, "ganhar o seu lugar ao sol" e dominar a economia mundial;
A antiga guerra fria ou braço de ferro faz-se, agora, não entre os EUA e a defunta URSS, entre os EUA e a China. E onde fica a Europa no meio dessa guerra?

Sim, o vírus existe e pode matar. Temos o dever e a obrigação de ser conscientes e responsáveis mas, da mesma forma, temos obrigação de nos manter alerta, de não nos deixarmos dominar pelo medo, nem perder o espírito crítico, a capacidade de observar, investigar, analisar e refletir.

Observemos os números, talvez, a fonte mais fiável que temos, ainda que possa ser trabalhada. (Dados de ontem, 28 de maio 2020)

Os EUA têm 309 mortos por milhão de habitantes, o Brasil tem 121 mortes por milhão de habitantes, já o RU, tem 552 mortes/milhão de habitantes, Itália tem 547 mortes/milhão de habitantes, França tem 438 mortes/milhão de habitantes.  

A Europa tem cerca de 741,4 milhões de habitantes, os EUA têm cerca de 330 milhões de habitantes, o Brasil tem  209,5 milhões de habitantes, a China tem 1,393 mil milhões de habitantes, a Índia tem 1,353 mil milhões de habitantes. 

Significa o quê? Significa que não podemos comparar países com áreas e número de habitantes completamente diferentes. 
A única comparação possível é por milhão de habitantes. 
Significa, igualmente, que 358,104 é o número de mortos no mundo, por Covid-19, 84% deles com mais de 60 anos e/ou com outras patologias graves, 
À Europa pertencem 170,985 mortes. à América do Norte (EUA, Canadá, México, etc) pertencem 118,913 mortes, à América do Sul 35,436 mortes, à Ásia 28,899 (note-se que na Ásia estão localizados os países com a maior população do mundo, China e Índia), África tem 3,731, Oceania 125 mortes. 

Relembro, somos 7,7 mil milhões de habitantes no mundo, grande percentagem desses habitantes tem idade superior a 60 anos, o que nos estados ocidentais gera um grande peso no Estado Social, em reformas, em saúde e em lares. 
Relembro, igualmente, em grande parte da Ásia, Ásia Islâmica, praticamente, não existem lares, pois os idosos ficam sempre com a família. 
Relembro, temos problemas ambientais muito graves, mas desenganem-se, não é para o Planeta que eles são graves, é para a nossa sobrevivência. Muito depois de todos os humanos terem deixado de existir na Terra, ela continuará viva, a regenerar-se e transformar-se continuamente, até que o Sol morra e com ele morra toda a vida que exista no Planeta. 
Relembro, temos problemas laborais gravíssimos, ou seja, não há, e cada vez existirá menos, trabalho. O número de desempregados irá continuar a aumentar gradualmente e não serão os impostos dos que, cada vez menos, trabalham que vão conseguir pagar reformas, subsídios de desemprego, saúde, etc. 

Na Europa tivemos o primeiro ensaio, uma "invasão controlada" de asiáticos e africanos. Estamos agora a meio do segundo ensaio, uma pandemia, sempre houve pandemias desde que existem homens.
Neste ensaio foram retiradas grande parte das liberdades às pessoas, confinadas em casa, afastadas dos seus idosos, sem poder acompanhá-los nos últimos momentos, sem lhes poder fazer funerais condignos. 
Porquê? Porque todos tinham medo e isso permitiu que as autoridades exercessem o seu poder sem contestações. 
Muitos dos que estão em teletrabalho nunca mais voltarão a trabalhar de outra forma. Notem, podemos andar de avião e de transportes públicos, mas temos enormes restrições para ir à praia. 
Não pode haver festivais ou qualquer outro evento ou manifestação que junte grande número de pessoas, exceto se for para celebrar o 1º de maio ou para realizar a festa do Avante.  Os participantes desses eventos são imunes ao vírus!! 
Quando as pessoas perdem a possibilidade de reunir não conseguem intervir de forma conjugada, mas, neste caso, nem querem intervir porque estão condicionadas, controladas e manipuladas pelo medo. 
Sim, é claro que o vírus pode matar, principalmente idosos, doentes oncológicos e, no geral, todos os que estejam/sejam imunodeprimidos. Claro que esses devem ser protegidos, mas ser protegido não é ser emparedado vivo, abandonado em lares ou qualquer outra coisa semelhante. 
Sim, é claro que o vírus está espalhado por todo o mundo, estranhamente muito menos nos continentes e/ou países mais pobres do que nos mais ricos. 
Dá que pensar. A vocês não? 

Aconselho a leitura de "1984" de George Orwell e de "Admirável Mundo Novo" de Aldos Huxley, eles, tal como Júlio Verne, não escreveram obras de ficção, fizeram raciocínios lógicos. Escreveram obras distópicas, não eram manipuláveis, nem controláveis. 

Há os rebanhos e há os cães, e os rebanhos só vão para onde os cães os deixam ir. Se é que me entendem. 

Refletir e analisar são capacidades que, até ver, só os homens têm, os restantes animais também pensam, mas não têm capacidade reflexiva. 
Pensar e refletir são os maiores dons que foram dados aos seres humanos, usem-nos.

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